Título: Planalto enterra a CPI
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Política, p. 3

Governo evita a criação de colegiado que investigaria denúncias na pasta dos Transportes

A comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Senado que seria criada para investigar irregularidades no Ministério dos Transportes foi sepultada na tarde de ontem. Sem as 27 assinaturas necessárias para a abertura das investigações, o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), afirmou que o pedido "não cumpria os pré-requisitos necessários" e considerou o assunto "matéria vencida".

Foi uma vitória do Planalto, que mobilizou os líderes da base e pelo menos três ministros ¿ Mário Negromonte (Cidades), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para conseguir a retirada de duas assinaturas ¿ João Durval (PDT-BA) e Reditário Cassol (PP-RO). Já o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) protagonizou uma crise de identidade partidária, assinou o requerimento de criação da comissão, mudou de ideia, mas depois voltou atrás novamente e endossou o requerimento.

Tão logo a CPI foi arquivada, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), retomou a coleta de assinaturas para a instalação de um novo colegiado. Até o início da noite de ontem, o tucano contava com o apoio de 15 colegas. "A oposição está no jogo e precisa continuar jogando. Vamos agir sem açodamento, para pegar o governo de surpresa novamente", prometeu o presidente do DEM, José Agripino Maia (RN).

Segundo Maia, a estratégia é aproveitar a insatisfação explícita na base aliada. Prova disso é que tucanos e demistas revezavam-se nos "carinhos" ao ex-ministro e agora senador Alfredo Nascimento (PR-AM). "O PR está satisfeito? O PMDB está à vontade por deixar o PR acuado? O PP gosta de estar na berlinda? Há um monte de touros soltos e uma toureira sem prática na arena", comparou Agripino.

Agilidade O Planalto agiu rápido. Na noite de terça-feira, o senador João Durval (PDT-BA) já tinha retirado sua assinatura. Para desarmar a bomba, entrou em cena o ministro Mário Negromonte (PP), que ligou para o prefeito de Salvador, João Henrique, também do PP, filho de João Durval. O prefeito ligou para o pai e o senador retirou a assinatura.

Outra relação filial salvou o governo. Cobrado pela cúpula do PP, o senador licenciado Ivo Cassol (RO) ligou para seu suplente ¿ e pai ¿, Reditário Cassol, que retirou o apoio à comissão. Alvaro Dias ainda protestou, alegando que Ivo Cassol havia prometido, antes da licença, assinar a CPI e que o pai só estava concretizando um desejo do filho. "Quando eu liguei para ele, o Ivo não me falou nada", rebateu ao Correio o senador Benedito de Lira (PP-AL).

A epopeia de Ataíde Oliveira foi mais controversa. Depois que o requerimento de criação da comissão foi registrado, o tucano solicitou a retirada de sua assinatura, pressionado pelo titular do mandato, João Ribeiro (PR-TO). Mas o PSDB convenceu o suplente a manter o apoio. "Estava pesando a consciência. Eu não estava em paz comigo mesmo. Posso ter vacilado diante desse compromisso que eu fiz com meu amigo, com meu titular, que é o João Ribeiro", resumiu Ataíde.