Título: Independentes, mas não separados
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Política, p. 4

PR deixa bloco petista no Senado, faz ameaças ao Planalto, mas não admite sair do governo

O PR sente-se como um namorado "traído e escurraçado em público", ameaça colocar o Palácio do Planalto para dormir na sala, mas sabe que não tem como sair de casa. No Senado, o partido desligou-se do bloco político que formava com o PT. Na Câmara, as lideranças partidárias declararam que vão examinar com mais cuidado os projetos encaminhados pelo governo ao Congresso. Nos dois casos, contudo, o PR alega que não vai deixar a base de apoio ao governo. "Vamos ser líderes de nós mesmos, independentes das orientações do Planalto", afirmou o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES).

Malta afirmou que não fazia o menor sentido o partido deixar a base de apoio do governo. "Há seis meses, dissemos que a presidente Dilma Rousseff era o melhor nome para dar continuidade ao projeto do presidente Lula. Não podemos agora fazer beicinho e dizer o contrário", completou Malta. Ele reconheceu, no entanto, que os votos dos sete senadores do PR poderão fazer falta para o governo na Casa. "São quase 10% do plenário", lembrou Malta.

Na Câmara, o líder do partido, Lincoln Portela (MG), admitiu que o partido está machucado. Disse ainda que as cicatrizes dificilmente serão curadas. Mas completou que, se a legenda decidir migrar para a oposição, dará ainda mais argumentos para seus detratores. "Vão dizer que assumimos a culpa por um erro que não cometemos e que estamos indo embora muito tarde", disse ele.

Retaliações Portela afirma, no entanto, que o partido começará a prestar mais atenção a alguns projetos que assustam o governo, como a Emenda 29 ¿ que define os percentuais de gastos que a União, os estados e os municípios devem empregar na Saúde ¿ e a PEC 300, que equipara os vencimentos de bombeiros e policiais militares aos salários pagos a esses profissionais no Distrito Federal. "Eu sempre defendi a PEC 300", declarou Portela. "Vou defender mais ainda agora", completou.

Lideranças do partido seguem reclamando que o partido virou bode expiatório de um problema de caixa do governo. Segundo esses parlamentares, o Planalto descobriu que não tem dinheiro em caixa para continuar as obras, apavorou-se diante da possibilidade do calote dos Estados Unidos ¿ o que afundaria o mundo em uma recessão global ¿ e resolveu dizer que o PR está desviando verbas do Ministério dos Transportes. "Viramos os responsáveis pela paralisia do PAC, é uma situação muito cômoda", disse um integrante da cúpula do partido.

O senador Blairo Maggi (MT), que foi fundamental para virar a intenção de voto dos ruralistas pró Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno de 2006, disse que espera do governo o mesmo comportamento que vem tendo ao afastar o PR. "Quando terminarem as apurações, eu quero que o Planalto venha, em público, dizer se o PR é um partido do bem ou um partido do mal", cobrou.