BC eleva taxa de juros para 13,25% ao ano, maior patamar desde 2008

Victor Martins

Carla Araújo

 

Em meio a um cenário de fragilidade da economia, com inflação em alta e recessão, o Banco Central elevou, na quarta-feira, 29, os juros básicos (Selic) em 0,50 ponto porcentual, colocando a taxa em 13,25% ao ano. Esse é o maior nível desde dezembro de 2008, quando estava em 13,75% ao ano. O comunicado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no entanto, não trouxe novidades: foi o mesmo da reunião anterior.

A decisão, a primeira com a presença dos dois novos diretores, Tony Volpon, de Assuntos Internacionais, e Otávio Ribeiro Damaso, de Regulação, foi unânime. "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, sem viés", informava a nota divulgada após a reunião.

Para a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, o presidente do BC, Alexandre Tombini, parece querer reforçar a imagem de comprometimento do combate à inflação e mostra que há chances de o ciclo de alta continuar. "Acho que esse é o recado", afirmou.

Alexandre de Ázara, sócio e economista-chefe do banco Modal, ponderou que o BC descartou a possibilidade de zero no próximo Copom. "Minha impressão é a de que esse comunicado e essa decisão deixam o Copom na posição de máxima flexibilidade entre uma alta de 0,50 e 0,25 ponto porcentual", disse.

Meta

Apesar do esforço recente da autoridade monetária, que desde setembro do ano passado elevou a Selic em 2,25 pontos porcentuais, as projeções, que colocam o índice oficial de custo de vida em 8,25% ao ano no fim de 2015 indicam que será impossível ao BC cumprir a missão de manter a inflação dentro dos limites de tolerância, que leva em conta a meta central de 4,5% com margem de 2 pontos para mais ou para menos.

Depois da alta da inflação de 1,24% em janeiro, de 1,22% em fevereiro e de 1,32% em março, 58,9% da meta (já contando o intervalo de tolerância) foi comprometida apenas no primeiro trimestre. Se a previsão do mercado para abril se confirmar - IPCA de 0,70% -, apenas no primeiro quadrimestre, faltando ainda oito meses para o fim do ano, o Brasil terá acumulado 4,56% de inflação.

A decisão de ontem veio em linha com o esperado pela maior parte do mercado financeiro, que projeta, de acordo com a mediana das apostas, mais uma alta de 0,25 ponto porcentual, o que deixaria a Selic em 13,50% ao ano. Depois do comunicado de ontem, no entanto, começa o período de avaliação das palavras do BC para que se projete até onde a instituição pode ir com o atual ciclo de aperto monetário.