A reconstrução da Petrobras

 

‘Quando você tem chefes de empresas indo para a cadeia porque violaram a lei, isso é bom’, afirmou o titular da Fazenda, em Nova York, quando perguntado sobre a apreensão do mercado com a corrupção na estatal

Em evento em Nova York, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem que a divulgação do balanço auditado da Petrobras, prevista para amanhã, vai acabar com as preocupações dos investidores. Marca um novo passo na reconstrução da Petrobras, disse. Ele defendeu ainda a renovação do Conselho de Administração da estatal com profissionais do mercado, em detrimento de indicados políticos. Perguntado sobre a apreensão do mercado com a corrupção na companhia, Levy respondeu: Quando você tem chefes de empresas indo para a cadeia porque violaram a lei, isso é bom. -NOVA YORK E RIO- A divulgação do balanço auditado da Petrobras, confirmada pela estatal para amanhã, vai acabar com as preocupações” dos investidores, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante evento da agência de notícias Bloomberg em Nova York. Isso, segundo ele, é um passo para uma nova Petrobras. Levy disse ainda que é positiva a renovação do Conselho de Administração da estatal com profissionais do mercado, em detrimento de indicados políticos.

— Em alguns dias, a expectativa é que teremos o balanço auditado, e isso é algo muito bom. Marca um novo passo na reconstrução da Petrobras — afirmou Levy, que foi perguntado em seguida sobre o impacto da crise da estatal na economia. — A principal questão é que isso (balanço) vai acabar com essas preocupações. É normal que as pessoas estejam preocupadas com o que aconteceu com a Petrobras, é uma grande empresa.

Ao ser perguntado pelo editor-chefe da Bloomberg, John Micklethwait, sobre a apreensão dos investidores com o esquema de corrupção na petrolífera, Levy ponderou:

— O Brasil é um dos países mais transparentes do mundo, onde o governo é responsabilizado por tudo o que faz, onde há eleições regulares e onde as pessoas que cometem transgressões vão para a cadeia. Quando você tem chefes de empresas indo para a cadeia porque violaram a lei, isso é bom.

Com relação ao fato de a presidente Dilma Rousseff afirmar que não sabia da corrupção na Petrobras, o ministro respondeu:

— Alguns dos gestores, aqueles que sabiam, estão na cadeia. Muitas vezes não há como saber tudo. Estou confiante na Petrobras. A governança continuará a ser melhorada, assim como a expectativa de ter um novo Conselho, que será formado por pessoas do setor privado e que podem dedicar muito mais tempo para supervisionar a companhia do que figuras públicas.

PASSOS OUSADOS

Em março, o diretor-executivo da Vale, Murilo Ferreira, foi indicado pela União para comandar o Conselho. O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, já vinha sinalizando a troca dos conselheiros por nomes do setor privado. Os novos membros serão eleitos na Assembleia Geral Ordinária, prevista para o próximo dia 29. Dos sete indicados pelo governo, quatro já foram substituídos. Serão trocados ainda Miriam Belchior, presidente da Caixa, e o general Francisco de Albuquerque. Sérgio Quintella, da Fundação Getulio Vargas, será mantido. Segundo fontes, o governo deverá indicar também o substituto de Ivan Monteiro, que não pode ser diretor financeiro e conselheiro ao mesmo tempo. Os dois representantes dos acionistas serão eleitos na assembleia, enquanto os funcionários da Petrobras escolheram Deyvid Barcelar como representante.

Levy garantiu ainda que o Brasil conseguirá a meta de superávit primário (economia para pagar os juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. Para isso, ressaltou, é preciso dar continuidade ao esforço fiscal. Ele garantiu que o ajuste focará no corte de gastos e não no aumento de impostos. E disse que também serão reduzidos alguns dos benefícios tributários concedidos nos últimos anos.

Perguntado sobre suas visitas ao Congresso em busca de apoio para o ajuste, Levy confessou:

— No Reino Unido, o ministro das Finanças deve ser um membro do Parlamento. Eu não tenho esse treinamento. Mas tudo tem ido bem no Congresso, há muito apoio ao ajuste, as pessoas entendem que é essencial para colocar o Brasil num novo caminho de crescimento. Ele defendeu algumas medidas do ajuste. — O governo deu alguns passos ousados, como na questão do seguro-desemprego. Tentamos resolver distorções ali, reduzir a rotatividade. Acreditamos que a rotatividade é uma barreira para a construção de habilidades. Então, o objetivo não é apenas aumentar arrecadação ou reduzir despesas, mas melhorar o mercado de trabalho, ter os incentivos corretos, especialmente para os jovens — disse Levy, que defendeu ainda a reforma das pensões.

FOCO NA DESONERAÇÃO DA FOLHA

À tarde, em breve conversa com a imprensa entre uma série de encontros com investidores, Levy disse que assim que voltar ao Brasil, o que ocorrerá hoje, vai se concentrar no projeto de lei que reduz a desoneração da folha de pagamento das empresas:

— Esse realmente é o nosso foco, porque essa medida não tem se mostrado tão efetiva. Esse vai ser um tema bastante importante, e acho que aos poucos tem havido um maior entendimento, inclusive das próprias empresas. Acho que é importante estar bem focado para encontrar uma solução rapidamente.

O ministro também voltou a ressaltar que é possível levar a inflação para perto do centro da meta em 2016. A projeção do boletim Focus, apurado pelo Banco Central junto ao mercado, para o ano que vem, está em 5,64%.

— A meta de 4,5% tem que ser um objetivo que a gente tem que perseguir muito para 2016, e acho que o mercado está vendo que realmente é possível em 2016 chegar a ter uma inflação perto da meta — disse Levy.

Em Nova York, o ministro teve uma agenda intensa de reuniões com diversos investidores, que, segundo ele, “são do meio de negócios nos Estados Unidos e têm uma influência mais difusa, mas importante”. Levy, que hoje se reúne com representantes da agência de classificação de risco Standard & Poor’s, frisou que seus esforços no exterior refletem o desejo da presidente Dilma Rousseff, que irá aos EUA em junho, de “se aproximar do setor econômico”.

— Esses encontros têm dois aspectos. Um é explicar a nossa estratégia macroeconômica, e isso tem resultados bastante concretos no sentido de as pessoas estarem mais tranquilas, entenderem melhor o que a gente está fazendo. Outra coisa é a gente estar ouvindo e conversando para ver algumas coisas que serão muito importantes no pósajuste. Como essa questão do financiamento da infraestrutura, o que precisa, quais são os aspectos mais delicados.