Funcionários da Petrobras são alvo de 105 auditorias internas

 

Mercado espera baixas por corrupção no balanço entre r$ 5 bi e r$ 10 bi

Ramona Ordoñez

ramona@oglobo.com.br

Bruno Rosa

bruno.rosa@oglobo.com.br

Bendine. No comando da estatal

Luis Ushirobira/Valor/13-2-2014

Escândalos em série

Após quase seis meses de atraso e dois adiamentos, o mercado espera ansioso a publicação dos balanços da Petrobras auditados relativos ao terceiro trimestre e ao ano de 2014, prevista para hoje. Analistas estimam que a baixa contábil decorrente da corrupção gire entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões. Mas o clima na companhia continua ruim, dizem funcionários: foram criadas 105 auditorias internas para analisar atos dos empregados, isso apenas na gestão de Aldemir Bendine, que assumiu em fevereiro.

Segundo uma fonte ligada à estatal, cerca de dois mil funcionários estariam sendo investigados pelos escritórios Trench, Rossi y Watanabe e o americano Gibson, Dunn y Crutcher, contratados pela estatal para analisar os casos de corrupção. Teriam sido recolhidos tablets, notebooks e celulares de 150 funcionários, inclusive da diretoria anterior.

- Está acontecendo uma verdadeira "CIAmania" (em referência à CIA, a agência de espionagem dos EUA). Para qualquer coisa que se faz, é aberta uma comissão interna de investigação - contou um funcionário da estatal.

Reunião: das 11h às 16h

A reunião do Conselho de Administração está prevista para começar às 11h no Rio e terminar às 16h. Mas, segundo alguns analistas, além das baixas, o importante é a sinalização da retomada dos investimentos.

- Não será fácil a Petrobras conseguir fixar o valor da corrupção. Talvez leve alguns anos. Mas é importante ter um número de partida, para a companhia retomar seus investimentos - disse um analista de mercado.

Mesmo com as baixas, analistas preveem que a companhia poderá apresentar um pequeno lucro, ou algo próximo de zero. Outro analista, que também prefere não se identificar, ressaltou que é muito difícil estimar a baixa contábil, principalmente após novas denúncias em relação ao real custo das obras do Comperj, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, de US$ 21,6 bilhões:

- O que vai valer mesmo para o mercado é ver o balanço publicado e ver o que vem de mensagem para o futuro. Vamos querer saber como a empresa conseguirá ficar com US$ 25 bilhões de caixa no final do ano.

A nova diretoria liderada por Bendine teve pouco mais de dois meses para conseguir definir uma fórmula para a baixa contábil das perdas com a corrupção. Segundo fontes, será usado um percentual de 3% pagos em propinas sobre os principais projetos citados nas delações premiadas feitas pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e pelo ex-gerente-executivo Pedro Barusco.

- A baixa contábil será com base nos 3% na maior parte dos projetos. Mas há um comprometimento por parte da diretoria da Petrobras de que o número anunciado poderá aumentar conforme as investigações avançarem - disse uma fonte.

Nota de crédito em risco

A Petrobras tem pressa em publicar o balanço auditado. O rebaixamento da nota de crédito pela agência de classificação de risco Moody's, no fim de janeiro, complicou ainda mais a situação financeira da companhia. A Standard y Poor's já afirmou que, se a estatal não publicasse o balanço até abril, poderia perder seu grau de investimento. Isso porque, sem os números auditados, os donos dos títulos emitidos pela petroleira no exterior poderiam solicitar a antecipação da dívida.

A novela do balanço financeiro da empresa começou em 31 de outubro de 2014, quando a PwC se recusou a assinar o resultado do terceiro trimestre de 2014, abrindo uma crise sem precedentes na estatal. Em novembro, a Petrobras anunciou um novo adiamento, para janeiro. No dia 27 daquele mês, a estatal divulgou um balanço, mas ainda sem a aprovação dos auditores. Na ocasião, Maria das Graças Foster, então presidente da estatal, anunciou uma baixa de R$ 88,6 bilhões. O número incluía, porém, além da corrupção, fatores como ineficiência em projetos e câmbio. A divulgação do número desagradou ao governo e acabou levando à demissão coletiva de Graça e de outros cinco diretores da estatal.

Mudanças no conselho

Com a nova diretoria, o governo iniciou uma mudança no Conselho de Administração. Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda e então presidente do Conselho, foi substituído por Luciano Coutinho, que fica no cargo até o fim deste mês, quando uma Assembleia de Acionistas vai votar a nomeação de Murilo Ferreira, presidente da Vale, para seu lugar. Além de Bendine, do diretor Financeiro, Ivan Monteiro, e do advogado Luiz Navarro, que já assumiram os cargos no Conselho, o governo pretende nos próximos meses nomear ainda executivos do mercado para as outras três vagas que tem direito a indicar.