Socorro de R$ 19 bilhões

 

Petrobras obtém empréstimo de BB, Caixa e Bradesco e vende plataformas a britânicos

Expectativa. No mercado e na própria Petrobras, todos aguardam a divulgação do balanço, marcada para quarta-feira

A poucos dias de publicar, com atraso, seu balanço de 2014 - a divulgação está marcada para quarta-feira -, a Petrobras recebeu, ontem, uma ajuda extra de quase R$ 19 bilhões. A empresa obteve R$ 9,5 bilhões em linhas de crédito do Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal, que são estatais, e do Bradesco. Além disso, selou um acordo para vender plataformas ao banco britânico Standard Chartered por US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,112 bilhões) e, depois, alugá-las de volta da mesma instituição e continuar produzindo petróleo.

No início do mês, a Petrobras já havia anunciado a obtenção de um empréstimo de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 10,64 bilhões) do banco China Development Bank (CDB). Assim, o total de linhas de crédito e da operação com ativos já soma quase R$ 30 bilhões na gestão do atual presidente da estatal, Aldemir Bendine. Ele assumiu no início de fevereiro, deixando assim a presidência do BB. Especialistas acreditam que os recursos suprem uma necessidade de caixa para o curto prazo, mas podem impactar negativamente o nível de endividamento da companhia. A informação sobre novos empréstimos foi antecipada nesta semana pelo colunista Ancelmo Gois.

Decisão política

Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras informou que "as operações, somadas a outras já executadas neste ano, atendem às necessidades de financiamento da companhia para 2015".

- O mercado de crédito está muito complicado para a Petrobras, então ela precisa buscar alternativas, porque é grande sua necessidade de rolagem de dívida vencendo em 2015. Na minha opinião, os acordos anunciados até agora ainda não são suficientes - disse Eduardo Roche, gestor da Canepa Asset Management.

Para o analista João Augusto Salles, da Lopes Filho & Associados, a decisão de conceder novas linhas de financiamento à Petrobras, que ainda não publicou balanços auditados e está no centro das investigações da Operação Lava-Jato, é eminentemente política. Para ele, BB e Caixa têm o governo como principal acionista, o que facilita as negociações. E o Bradesco é próximo ao governo.

- Conceder novos empréstimos à Petrobras é uma decisão política, que dá menos peso aos critérios técnicos que levam em conta o risco da operação - avalia Salles.

No BB, segundo uma fonte, o empréstimo começou a ser estudado no fim de 2014, e os os termos do acordo começaram a ser discutidos pela área responsável há cerca de dois meses:

- Empréstimo à Petrobras é absolutamente rotineiro. A empresa tem capacidade de pagamento muito maior que esse empréstimo. Não é socorro. Para nós, foi um negócio muito bom.

Semana passada, em evento para investidores, o vice-presidente do Bradesco, Sergio Clemente, disse que a instituição poderia ter um papel relevante na venda de ativos da estatal.

- Os ativos que a Petrobras tem e que podem ser colocados à venda são de muito valor. Queremos ser assessores relevantes da Petrobras.

Um dia antes, Luiz Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, descartou a compra de ativos da Petrobras, como a BR Distribuidora, mas afirmou:

- Somos banqueiros da Petrobras e estamos avaliando (opções para a BR Distribuidora) para ajudar a Petrobras.

O banco Standard Chartered já é velho conhecido da Petrobras. Foi assessor financeiro na venda de metade dos ativos da África para o BTG por US$ 1,5 bilhão, em meados de 2013.

Ao fim de setembro, o endividamento líquido da estatal somava R$ 261,4 bilhões. No comunicado à CVM, a Petrobras explicou que o financiamento do BB se refere a uma "modalidade de nota de crédito à exportação, através da subsidiária BR Distribuidora, pelo prazo de seis anos". Com a Caixa e o Bradesco, a estatal conseguiu financiamentos pré-aprovados de R$ 2 bilhões e R$ 5 bilhões, respectivamente, por cinco anos. A operação com o banco britânico, de dez anos, tem efeito de curto prazo, lembram analistas.

- A Petrobras tomando mais dinheiro emprestado é bom, porque mostra que o mercado não está fechado para ela. Mas ela vai ficar mais alavancada, e isso é péssimo. A missão para a empresa hoje, além de publicar balanço, é reduzir sua alavancagem. E esse dado ainda é uma incógnita, porque não temos balanço - afirmou Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management.

Fontes da Petrobras avaliam que as captações demonstram que a estatal não tem dificuldades para se financiar. Para parlamentares da oposição, trata-se de manobra para aparentar uma situação menos desfavorável do que a real. O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), afirma que o financiamento serve de "maquiagem":

- Curioso é que isso acontece na véspera da comunicação do balanço. É estranhíssimo. Se a Petrobras foi atrás da Caixa e do Banco do Brasil é porque seguramente o "risco Petrobras" levou à perspectiva de empréstimos a taxas de juros inconvenientes.

Para o líder da minoria na Câmara, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), o empréstimo seria consequência da falta de credibilidade da estatal, resultado dos escândalos de corrupção.

 

SETE NEGOCIA LINHA DE R$ 11,2 BI COM BANCOS PÚBLICOS

 

Além disso, empresa pretende pegar mais r$ 5 bilhões, também com a caixa

Além da Petrobras, a Sete Brasil - empresa criada para construir sondas para a exploração do pré-sal - também terá o socorro dos bancos estatais. Sem conseguir acesso a um financiamento de cerca de R$ 15 bilhões do BNDES, a Sete informou que está negociando com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal uma linha de crédito de US$ 3,7 bilhões (R$ 11,25 bilhões). A ideia inicial é obter esses recursos até o fim deste mês. Além disso, a empresa informou que espera obter mais US$ 1,7 bilhão (R$ 5,17 bilhões) em uma linha da Caixa, por meio do Fundo de Investimento em Infraestrutura. As informações constam em seu relatório financeiro relativo ao ano de 2014, publicado ontem.

Sem pagar aos cinco estaleiros que contratou para a construção de 29 sondas desde novembro do ano passado, a Sete também terá um aporte de mais R$ 1,3 bilhão de seus acionistas. Entre os donos da Sete estão os fundos de pensão de estatais, como a Previ, do BB, a Petros, da Petrobras, e a Funcef, da Caixa, além de bancos como Bradesco e BTG, bem como a própria Petrobras. A Sete diz que deve aos estaleiros e fornecedores cerca de R$ 2,5 bilhões no fim do ano passado, contra R$ 1,898 bilhão no fim de 2013.

Sem os recursos do BNDES, a Sete vem recorrendo a empréstimos de curto prazo. Em 2014, foi US$ 1,145 bilhão (R$ 3,48 bilhões). A empresa disse ter negociado a extensão dessas dívidas com os credores, exceto o empréstimo "junto ao Standard Chartered, no montante de R$ 664 milhões, que emitiu notificação de Default (calote) contra a companhia". Em 2014, a Sete registrou lucro contábil de R$ 719,217 milhões por uma questão cambial, já que criou empresas sediadas no exterior para construir as sondas. ( Bruno Rosa )