Título: Cordão de isolamento
Autor: Nunes, Vicente; Batista; Vera
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Economia, p. 12

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não escondeu ontem o temor de que uma nova crise mundial seja detonada em breve, diante das dificuldades enfrentadas pelos Estados Unidos e pela Europa. Para ele, apesar da comemoração de muitos, o aumento do teto da dívida norte-americana pelo menos até 2013 "não é satisfatório" e foi mais político do que econômico. Não à toa, admitiu o ministro, o governo brasileiro terá que "tomar medidas que coloquem um cordão de isolamento no Brasil para que não seja prejudicado por essa situação". Ele não revelou, porém, quais seriam as ações.

Na avaliação do ministro, a única vantagem da propalada vitória do presidente dos EUA, Barack Obama, depois de três meses de duelo com o Congresso, foi afastar o risco de calote da maior economia do planeta. A seu ver, como o governo norte-americano terá de fazer cortes no Orçamento do país, ficará sem condições de fomentar o crescimento da economia, que está à beira da recessão.

"Acho que (o pacote aprovado pelo Congresso dos EUA) ficou a desejar. E nós devemos esperar que essa questão se arraste por alguns anos. Tanto nos EUA quanto na Europa, a perspectiva é de recuperação demorada", disse Mantega, que teme por reflexos pesados no Brasil. Individualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro. E a Europa consome outra parcela importante das exportações nacionais. "Somos afetados por questões cambiais, de política monetária e pela falta de mercados", destacou. O quadro só não é pior, segundo o ministro, devido à força dos países emergentes, que têm mostrado bom desempenho, mesmo com a inflação em alta.

Ironias Apesar do nervosismo dos mercados ¿ os investidores dão sinais de pânico, devido aos problemas dos dois lados do Atlântico ¿, Mantega não perdeu a oportunidade para ironizar a decisão da agência de classificação de risco chinesa, a Dagong Global, de rebaixar a nota soberana dos Estados Unidos. "Eles deveriam ter cuidado, porque o maior credor dos EUA é a China. Estão depreciando os títulos que eles mesmos possuem", ressaltou. No entender do ministro, o crucial não é o rebaixamento dos EUA.

"O que mais preocupa é a dificuldade de recuperação econômica, a manutenção de desemprego elevado e o fraco crescimento da demanda. Não há resolução dos problemas que levaram à crise do subprime (títulos imobiliários podres, em 2008)", salientou Mantega. (VB)