Título: FMI vê economia aquecida
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Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Economia, p. 13

Relatório divulgado pelo Fundo recomenda ao Brasil que continue adotando medidas para conter as pressões inflacionárias

Em relatório publicado ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a advertir que há sinais de superaquecimento na economia brasileira e pediu que o governo continue a adotar medidas para enfrentar as pressões inflacionárias e conter o excesso de crédito. O documento observa que o forte crescimento da economia em 2010, que atingiu 7,5%, aliado a uma pressão de demanda e ao nível baixo de desemprego, provocou o aumento da inflação, que, em maio passado, atingiu o teto da banda de flutuação da meta oficial, que vai de 2,5% a 6,5%.

A instituição projeta um crescimento de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano e prevê que a inflação chegará a 6,6% no fim de 2011. Embora avalie que os indicadores financeiros do Brasil são, em geral, favoráveis, e elogie a decisão do governo de retirar gradualmente os estímulos à economia adotados durante a crise de 2009, o FMI encoraja as autoridades brasileiras a aprofundar as medidas de contenção de gastos públicos. Para o Fundo, "um ajuste fiscal adicional ajudaria a baixar a inflação e administrar o influxo de capitais externos, atenuando também a necessidade de aumentar ainda mais as já elevadas taxas de juros vigentes no país".

O relatório foi elaborado depois de discussões dos técnicos do Fundo com representantes do governo brasileiro. Essas avaliações são realizadas uma vez por ano com os países-membros, de acordo com o que determina o artigo IV dos estatutos da organização.

Desde 2010, o órgão vem manifestando preocupação com o que considera sinais de superaquecimento da economia brasileira. A entidade observa que o volume total de crédito no Brasil saltou de 20% do PIB, em 2004, para 46% no ano passado, e comenta que os financiamentos bancários ao setor privado continuam em rápida ascensão, tendo registrado aumento de 20% somente em abril de 2011. O relatório reconhece que as medidas já adotadas pelas autoridades brasileiras podem ter ajudado a conter o crédito em alguns setores, mas revela que, para alguns diretores do Fundo, elas precisam ser mais amplas para produzir um efeito maior.

Fluxo O organismo também recomenda que o governo brasileiro "continue a aplicar medidas de ajuste da política macroeconômica como parte da resposta ao grande fluxo de entrada de capitais", considerando que "o Brasil continua a ser um dos destinos prediletos dos investidores internacionais, um reflexo de suas perspectivas econômicas e rendimentos elevados".

Nos últimos meses, a equipe econômica adotou diversas medidas para frear o ingresso de dólares no país, que vem provocando valorização do real e tirando competitividade da indústria brasileira. Essas medidas, contudo, não têm conseguido inverter a tendência do câmbio, diante da enxurrada de capital externo que, somente nos primeiros sete meses deste ano, alcançou US$ 55,6 bilhões, mais que o dobro do que no mesmo período do ano passado.

O FMI finaliza seu relatório sugerindo medidas para melhorar o ambiente de negócios e aumentar a competitividade, o que "reduziria as taxas de juros, que são estruturalmente elevadas, e favoreceria as perspectivas de crescimento a longo prazo". E propõe ao governo que busque realizar reformas fiscais importantes, como a da Previdência, para reduzir o deficit estrutural do sistema, e da legislação do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Justiça decide sobre dirigente A Justiça francesa vai decidir na quinta-feira se a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, deverá ser formalmente investigada por ter aprovado um pagamento compensatório a um amigo do presidente Nicolas Sarkozy quando era ministra das Finanças. Se o juiz endossar o pedido da procuradoria, estará lançando uma cortina de fumaça sobre a gestão de Lagarde no FMI, um mês depois de ela ter sido nomeada para o cargo em meio à turbulência econômica global. Promotores dizem que Lagarde abusou de seu poder ao aprovar um pagamento de 285 milhões de euros ao empresário Bernard Tapie em 2008, para ressarci-lo por causa de suas alegações de que o banco Crédit Lyonnais, na época estatal, cometeu uma fraude contra ele numa operação de venda de ações da Adidas, em 1993.