Título: US$ 15,8 bi em capital externo
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Economia, p. 15

Estimulado pelas altas taxas de juros e em rota de fuga da crise nos países desenvolvidos, o capital estrangeiro está desembarcando no Brasil com força total. O ingresso de recursos no país foi de US$ 15,8 bilhões em julho, a maior marca do ano e a segunda mais alta da série histórica do Banco Central, iniciada em 1982. Só em junho de 2007 o fluxo cambial tinha sido superior, batendo em US$ 16,5 bilhões. No ano, segundo os dados divulgados ontem pelo BC, a enxurrada de dinheiro de fora já soma US$ 55,6 bilhões, mais do que o dobro do que entrou em todo o ano passado (US$ 24,3 bilhões).

Segundo analistas, o ingresso forte de moeda estrangeira em julho foi estimulado pelo próprio governo. O BC tomou uma medida dura para combater a especulação, elevando o depósito compulsório, quantidade de recursos que os bancos precisam recolher à autoridade monetária. Para reduzir a posição vendida (volume de dólares que os operadores vão ter que entregar no futuro para seus clientes), as instituições financeiras são obrigadas a comprar a moeda estrangeira.

A situação internacional é favorável ao Brasil. Apesar do fechamento do acordo em torno do aumento do teto da dívida norte-americana e do corte do deficit público, ainda persistem dúvidas sobre a capacidade do governo dos Estados Unidos de pôr as contas em ordem, explicou o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. Segundo ele, o ritmo de crescimento da economia nos Estados Unidos continua muito fraco, o que repercute nas economias emergentes, como o Brasil.

Independentemente das medidas já adotadas pelo governo, Velho afirma que o viés da cotação do dólar, no Brasil, é de queda "pelo simples fato de que a economia, em termos reais, continuará crescendo em média dois a três pontos acima da média de Europa, Japão e Estados Unidos". Para o economista, as iniciativas oficiais tiveram efeito, mas não conseguirão reverter a tendência estrutural de valorização do real. "Sem as intervenções desde setembro de 2010, o câmbio nominal estaria hoje na casa de US$ 1,25 a US$ 1,30", observou.

No resultado de julho, o fluxo financeiro foi positivo em US$ 9,5 bilhões, com ingressos de US$ 39,3 bilhões e saídas de US$ 29,7 bilhões, enquanto o comercial teve superavit de US$ 6,2 bilhões (exportações de US$ 23,6 bilhões e importações de US$ 17,4 bilhões). O BC também informou que os bancos reduziram sua posição vendida em câmbio para US$ 6,3 bilhões, contra US$ 14,7 bilhões em junho.

Recuo de 0,43% Após fechar em alta nos dois primeiros dias da semana, o dólar foi negociado em queda na maior parte do dia ontem. No fim de uma sessão com poucos negócios, a moeda norte-americana teve desvalorização de 0,43%, encerrando em R$ 1,561. Apesar do recuo, a divisa acumula alta de 0,65% na semana. No ano, entretanto, continua encolhendo (-6,3%). No câmbio externo, ela chegou a ensaiar uma tênue recuperação, mas não resistiu a indicadores mostrando as dificuldades que a economia dos Estados Unidos enfrenta para se recuperar.