Título: Crédito para casa própria bate recorde
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2011, Economia, p. 18

Financiamentos com dinheiro da poupança somam R$ 37 bilhões no primeiro semestre

O montante de financiamentos imobiliários no país, com recursos das cadernetas de poupança, chegou a R$ 37 bilhões no primeiro semestre, valor recorde para o período, com alta de 55% em relação aos seis primeiros meses de 2010. Diante da forte tendência de crescimento desses empréstimos, dentro de dois a três anos, os recursos das cadernetas não serão mais suficientes para bancar essas operações, admitiu, ontem, o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luiz Antonio França.

O diretor de Crédito Imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges, no entanto, não vê perigo no crescimento expressivo do setor, apostando no desenvolvimento de novos mecanismos de crédito. "Vamos fazer uma passagem do mercado primário de recursos, que é a poupança, para o mercado secundário, quando as próprias operações já realizadas serão transformadas em títulos, certificados de recebíveis bancários, letras imobiliárias e outros papéis", argumentou.

"Com estabilidade e crescimento econômico, além de uma taxa de juros compatível com empréstimos de longo prazo, não vejo como acabar o financiamento imobiliário. Os mutuários podem ficar tranquilos que novos mecanismos aparecerão. Estamos trabalhando para isso", concluiu.

O presidente da Abecip disse que a entidade entregará ao Banco Central (BC), até o fim do mês, a minuta de um projeto para acelerar a utilização de outros mecanismos de concessão de crédito, como os "covered bonds", papéis com maior garantia, adotados na Europa. Segundo o BC, a poupança mostrou recuperação em junho, com captação líquida de R$ 1,2 bilhão, depois de ter registrado dois meses seguidos de resgates superiores aos depósitos. Foi o melhor resultado do ano.

Expectativa O número de unidades financiadas no primeiro semestre foi de 236,5 mil, um crescimento de 26% em relação aos primeiros seis meses de 2010. Somente em junho, foram 46,5 mil imóveis, um aumento de 13,8%. Com resultados crescentes a cada mês, o mercado imobiliário deve superar a previsão de encerrar 2011 com R$ 85 bilhões contratados em financiamentos com recursos da caderneta de poupança. "Podemos ter surpresas. A projeção tem viés de alta", disse França. Ele prevê o financiamento de 540 mil unidades em 2011.

O presidente da Abecip explicou que o segundo semestre é sempre mais forte que o primeiro e disse que os resultados divulgados ontem apontam para a manutenção da demanda aquecida por imóveis no país, apoiada na queda da taxa de desemprego e no aumento da renda média da população. Nesse cenário, nem mesmo o aumento da taxa básica de juros causa maiores preocupações.

A maior parte dos recursos empregados no financiamento imobiliário é proveniente da poupança, cujas taxas seguem a Taxa Referencial de Juros (TR). " A influência do juro maior nesse mercado é muito pequena", disse França. Dos R$ 37 bilhões financiados no primeiro semestre, o maior volume, R$ 19,8 bilhões, foi destinado à aquisição de imóveis. O restante foi para a construção. O percentual financiado no período foi de 62,7%, o que significa que os mutuários deram, em média, uma entrada de 37,3% do valor do imóvel. O valor médio dos financiamentos ficou em R$ 156 mil.

ITAÚ SEGURA EMPRÉSTIMOS O Itaú Unibanco, maior instituição financeira privada do país, será mais rigoroso na concessão de crédito, principalmente para as empresas pequenas e médias. Com um maior controle das despesas, a medida tem o objetivo de reverter a piora dos indicadores financeiros apontada no balanço do segundo trimestre, divulgado na terça-feira, que derrubou as ações do grupo. Apesar do lucro de R$ 3,6 bilhões, a provisão para calotes cresceu 16,6% em relação ao trimestre anterior. O banco provavelmente "acelerou" demais os desembolsos para o segmento durante o ano passado, o que pode ter levado a um aumento da inadimplência, disse ontem o diretor de Relações com Investidores, Alfredo Setubal, em teleconferência com analistas.