Piora no mercado de trabalho

 

Desemprego nacional avança para 7,4%, e ganho de renda perde fôlego no início do ano

Clarice Spitz

clarice.spitz@oglobo.com.br

Não há vagas

A desaceleração da economia levou ao aumento do desemprego em todo país no início deste ano. Com uma parcela maior de pessoas à procura de uma vaga, a taxa de desocupação acelerou para 7,4% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, ante 6,8% do mesmo período do ano passado. É a mais alta desde o trimestre encerrado em maio de 2013, quando fora de 7,6%. Na comparação com curto prazo, o movimento também foi de alta, já que no trimestre encerrado em novembro a taxa estava em 6,5%.

Pela metodologia do IBGE na elaboração da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, a Pnad Contínua, o trimestre terminado em fevereiro incorpora dados de dezembro, janeiro e fevereiro, o que suaviza variações mais bruscas dos indicadores. A pesquisa confirma uma tendência que já era observada nas regiões metropolitanas, pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) que mostrara que, em fevereiro, a taxa de desemprego subiu para 5,9%, e a renda caiu.

Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, existe uma tendência de piora no mercado de trabalho, desde o fim do ano passado, nos cerca de 3.500 municípios cobertos pela pesquisa.

- Num período recente, há uma tendência de alta na taxa de desocupação. A grande expectativa é saber quando ela vai cair. Desde 2014 há um processo de que, ainda que sejam gerados postos de trabalho, a pressão no mercado pelo lado da procura é mais forte - afirmou Azeredo.

Para pesquisador da FGV, piora fortE

O pesquisador do Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rodrigo Leandro de Moura vê uma piora forte na passagem do trimestre encerrado em janeiro para aquele terminado em fevereiro. Ele cita a queda de 0,4% na ocupação no período, enquanto a força de trabalho aumentou em 0,25%. Segundo Moura, a estimativa é que a taxa de desemprego do país termine o ano entre 7,5% e 7,8%. Em 2014, a taxa média foi de 6,8%.

- A geração de postos está bem mais fraca e não consegue absorver os novos entrantes. A retração da população ocupada, na margem, já era observada na Pesquisa Mensal de Emprego e na Pnad Contínua ainda ocorria - afirmou Moura.

A piora nos dados mais recentes também chamou a atenção de Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Ele considera que a procura de pessoas por um posto de trabalho deverá se intensificar nos próximos meses, e a renda tende a perder mais fôlego. A renda média real no trimestre móvel encerrado em fevereiro foi de R$ 1.817, uma alta 1,1% em relação ao mesmo período do ano passado e de 1,3% frente ao trimestre encerrado em novembro.

Efeito do salário mínimo

Segundo o IBGE, isso está ligado à dispensa de temporários e, possivelmente, à perda expressiva de ocupação entre pessoas de baixa renda, o que influencia no mercado de trabalho.

Bacciotti, da Tendências, ressalta que a renda real passou de avanço de 2,1% no trimestre encerrado em janeiro em comparação ao mesmo período do ano passado para 1,1% do trimestre encerrado em fevereiro.

- Assim como na Pesquisa Mensal de Emprego, há um movimento de alta do desemprego mais bem delineado, uma deterioração no mercado de trabalho mais claro no início deste ano, com enfraquecimento da ocupação, e, em um cenário de contração da atividade e de expectativa de crescimento, as expectativas são ainda piores - afirmou.

Para o professor da Unicamp Claudio Dedecca, a renda mostrou avanço no trimestre encerrado em fevereiro - enquanto caiu nas metrópoles de acordo com última PME - porque ainda captou os efeitos do aumento do salário mínimo. Segundo ele, a inflação já corroeu parte do ganho de renda de janeiro e ainda deverá se fazer sentir nos dados da Pnad Contínua:

- O efeito já será negativo no dado de março. A situação do mercado de trabalho está mais tensa que no ano passado, mas acho que é prematuro dizer que ele está explodindo e que o desemprego vai a dois dígitos.

Para Alexandre Andrade, da GO Associados, uma das explicações para que a renda ainda esteja mostrando ganhos, mesmo que menores, é a escassez de mão de obra qualificada em algumas funções.

- Não vejo como, numa situação econômica como essa, os sindicatos consigam poder de barganha nas negociações. Acho que deve haver um crescimento menor dos salários mais alinhados à produtividade ou o salário real crescendo próximo de zero, só repondo a inflação. A tendência é crescer menos - afirma.

A massa de rendimento (total de salários) também teve ganhos acima da inflação. Ela somou R$ 162 bilhões, uma alta de 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado e um avanço de 0,7% em relação ao trimestre terminado em novembro.

- No curto prazo (comparação entre janeiro e fevereiro), a massa de rendimento real mostrou tendência de queda, isso tem a ver com o número menor de pessoas ocupadas - explica Azeredo.

 

BARBOSA: SEM AJUSTES, BENEFÍCIOS SERÃO INSUSTENTÁVEIS

 

Ministro defende mps que mudam as regras para Pensão e seguro-desemprego

Eliane Oliveira

elianeo@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA

Em audiência pública no Congresso para discutir as Medidas Provisórias 664 e 665, que restringem a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da Previdência, Carlos Gabas, afirmaram que, do jeito como estão hoje, o seguro-desemprego, o abono salarial, a pensão por morte e o auxílio-doença vão se tornar insustentáveis ao longo do tempo. Segundo Barbosa as duas MPs não têm o objetivo único de ajuste fiscal, e sim de realizar uma reforma estrutural e permanente desses instrumentos. Barbosa admitiu que podem haver mudanças nas propostas do Executivo, mas avisou que a margem para negociar é pequena:

- Estamos dispostos a negociar alguns pontos, mas queremos manter a estrutura geral das medidas, porque é preciso haver adequação nas regras de acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial e à Previdência. A proposta que fizemos está no grau correto e a margem (de negociação para um acordo no Congresso) é muito pequena.

Barbosa argumentou que, com a redução dos gastos indevidos com esses programas, estimados em R$ 18 bilhões por ano, sobrarão recursos para investir na melhora das ações sociais. Acrescentou que é preciso garantir a sustentabilidade do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e alinhar o abono ao que se pratica no 13º salário.

- O abono salarial cresce 22% ano ano, algo que não é sustentável, se levarmos em conta o crescimento da economia brasileira - disse o ministro.