'Não me atemorizam', afirma Dilma sobre impeachment

Tânia Monteiro

 

Em entrevista publicada ontem pelo jornal mexicano La Jornada, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a tese do impeachment é usada como “arma política” pela oposição e não a atemoriza. Dilma foi questionada se “um setor, uma direita, que fala muito do impeachment” representaria “uma forma de golpismo branco”.

“(O impeachment) é um elemento da Constituição (...) Agora, o problema do impeachment é sem base real. E não é um processo, não é algo, vamos dizer assim, institucionalizado. Eu acho que tem um caráter muito mais de luta política (...) Ou seja, é muito mais esgrimido como uma arma política (...) Agora, a mim não atemorizam com isso. Eu não tenho temor disso, eu respondo pelos meus atos”, afirmou a presidente. Ela embarca hoje para uma visita oficial de dois dias ao México.

Na semana passada, o PSDB anunciou que deixou de lado a tese do impeachment, com base em parecer do jurista Miguel Reale Junior que sugeriu uma ação penal contra a presidente por causa do atraso nos repasses de benefícios sociais. Outros partidos de oposição seguiram a decisão dos tucanos.

Na entrevista, concedida na sexta-feira passada, Dilma, sem citar nomes, disse que dos 90 mil empregados da Petrobrás, “quatro funcionários foram e estão sendo acusados de corrupção” no escândalo detectado na Operação Lava Jato.

Segundo ela, a petroleira “é tão importante para o Brasil como a seleção (brasileira de futebol)”. “Se a seleção brasileira é a pátria de chuteiras, a Petrobrás é a pátria com as mãos sujas de óleo”.

Partilha

A presidente assegurou também que não haverá mudanças no regime de partilha para exploração do pré-sal. Questionada se era “zero” o risco de voltar ao velho modelo de concessão, a presidente respondeu: “Eu acho que não é zero. Enquanto eu estiver na Presidência, é menos mil.”

Dilma defendeu o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a ampliação do Porto de Mariel, em Cuba. Ela disse novamente que o banco seguiu uma orientação de governo e não agiu por conta própria. “Não há como o BNDES financiar sem cumprir a política.”

A presidente, que em julho irá aos Estados Unidos para um encontro com o presidente Barack Obama, falou que as relações entre Brasil e EUA viverão “um novo momento”. A crise diplomática causada pelas denúncias de espionagem americana contra o governo brasileiro está sendo tratada como encerrada por ela. “O passado é o seguinte, não foi esquecido, tanto é que foi registrado”, comentou. “A compreensão é que o governo Obama, nas suas atribuições, tomou as providências cabíveis”.