Título: O contexto e a intriga
Autor: Rothenburg, Denise; Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 05/08/2011, Política, p. 2

Tabatinga (AM) ¿ No fim da manhã de ontem, o clima na cerimônia para a assinatura do acordo de cooperação entre Brasil e Colômbia era de descontração.

O vice-presidente Michel Temer fez uma defesa veemente do então ministro da Defesa, Nelson Jobim. Destacou que o teor das declarações dadas à revista Piauí já tinham sido explicadas pelo ministro e garantiu que não haveria mudanças na pasta.

"Não haverá problema de nenhuma natureza. Reitero que o ministro Jobim não fez referência à pessoa ou à atuação da ministra A ou B, só em relação à aprovação do projeto de lei (do sigilo de informações oficiais)." O titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, engrossou o coro: "Há muita especulação. Meu trabalho é muito integrado ao do ministro Jobim. Qualquer coisa que se diga neste momento é absolutamente especulação".

Jobim insistia em afirmar que as declarações estavam foram de contexto. "Isso faz parte do jogo da intriga, da tentativa de desestabilizações. Ou seja, daquilo que passa pela cabeça de quem não percebe as necessidades do país", afirmou, após a assinatura do tratado. De acordo com o ministro, as polêmicas declarações publicadas na revista se referiam exclusivamente à discussão sobre a Lei de Acesso a Informações, em tramitação no Senado, e foram tiradas do contexto. "O que nós comentávamos, o que nós nos referíamos, era o projeto de lei sobre informações sigilosas. Em momento nenhum, fiz referências dessa natureza", justificou ¿ durante o evento, os integrantes do governo brasileiro sorriram, conversavam com jornalistas e não davam sinais de constrangimento, apesar de Jobim já ter recebido uma ligação da presidente Dilma.

Além do acordo de cooperação para a fiscalização de fronteiras, a comitiva anunciou, ao lado de autoridades colombianas, incluindo o vice-presidente do país, Angelino Garzón, a deflagração da Operação Ágata. O grupo que começa a trabalhar hoje vai combater delitos ambientais e o crime organizado nas divisas com outras nações. Depois da assinatura do acordo, os representantes dos dois governos embarcaram para a Colômbia, onde conheceram um posto de Policiamento Especializado de Fronteira (Pefron). Jobim não foi e embarcou para Brasília. O retorno dos jornalistas para a capital federal foi realizado em um voo separado dos ministros do governo, diferentemente do trajeto de ida. (IS)