Oposição vê "fracasso"

Correio braziliense, n. 19969, 03/05/2015. Política, p. 3

Paulo de Tarso Lyra

O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1º de maio, não deixou dúvidas para petistas ou tucanos: alvo de investigação do Ministério Público Federal por denúncias de tráfico de influência internacional a fim de ajudar empreiteiras brasileiras a obter contratos no exterior, Lula lançou-se candidato ao Planalto em 2018 e tenta desviar o foco das acusações. Ao afirmar que “está quieto no canto”, mas que é “bom de briga”, o cacique petista antecipou um movimento esperado por aliados apenas no fim de 2016 e explicitou ainda mais o enfraquecimento político da presidente Dilma Rousseff. Opositores veem a manobra como um ato de desespero do próprio PT, mergulhado em profunda crise institucional.

“Quando você tem, em seu campo político — independentemente de ser presidente, governador, ou prefeito —, alguém como candidato futuro, perde total controle do processo decisório”, criticou o líder da minoria na Câmara, Bruno Araújo (PSDB-PE). Para o tucano, a letargia na qual o governo Dilma está mergulhado fez com que até mesmo Lula, mentor político da presidente, desacreditasse no poder que a pupila tem de debelar a atual crise. “Esse gesto viria, naturalmente, mais para a frente. A antecipação é o sinal patente do fracasso da presidente”, disse Bruno.

Petistas ouvidos pelo Correio são cuidadosos em poupar a presidente Dilma. Afinal, ela ainda tem três anos e sete meses de mandato. Entretanto, reconhecem que a presidente pagou pelos próprios erros na esfera política. “Vai preservar o mandato até o fim, mas com poder esvaziado”, admitiu um integrante do comando partidário.

A dúvida, agora, é se Lula terá capacidade de recuperar o prestígio de outrora. Nas últimas manifestações contra o governo, não apenas o PT e a presidente Dilma tornaram-se alvos de críticas. Lula — que, durante os oito anos de mandato, ganhou o apelido de teflon (material anti-aderente que reveste panelas), numa alusão ao fato de escapar incólume às denúncias que envolviam seu governo e o partido — também começou a ser visto, por parte da população, como ator envolvido nos escândalos de corrupção.

A abertura de investigação do Ministério Público, por exemplo, publicada na revista Época, repercutiu em jornais internacionais, como o The New York Times. A publicidade negativa no exterior, aliás, tem sido frequente devido à combalida economia e aos sucessivos escândalos na Petrobras. A pressão vem desde o julgamento do mensalão, que colocou na cadeia a direção partidária responsável pela eleição de Lula em 2002.

Escudo

Para alguns petistas, no entanto, nada disso é problema. Na opinião deles, a inapetência política da presidente Dilma deu a Lula a desculpa ideal para lançar-se ao Planalto sem parecer que está fazendo um movimento de oposição a ela. Pelo contrário, o discurso é de que a estaria protegendo. “Ele não vai atacar a presidente. Pelo contrário, vai enaltecê-la”, assegurou outro cacique petista.

Pouco à vontade para tratar do tema, já que, recentemente, assumiu a liderança do governo no Senado, Delcídio Amaral
(PT-MS) reconhece que Lula mexeu no tabuleiro. “As denúncias contra o PT e o debate em torno da terceirização permitiram que o ex-presidente retomasse o protagonismo político”, disse.

>> PF investiga marqueteiro

O marqueteiro João Santana é investigado pela Polícia Federal por indícios de lavagem de dinheiro ao receber US$ 16 milhões em 2012. A suspeita, divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, é de que o pagamento tenha sido feito por empreiteiras brasileiras que atuam em Angola como forma de saldar dívida do PT após Santana fazer a campanha de Fernando Haddad em São Paulo.