Título: Socorro a governos e bancos
Autor: Caprioli, Gabriel; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 05/08/2011, Economia, p. 8

Frankfurt ¿Numa tentativa de apagar o incêndio que se alastra pelos mercados, o Banco Central Europeu (BCE) recomeçou, ontem, a comprar bônus governamentais, depois de uma pausa de quatro meses. A instituição passou também a oferecer dinheiro aos bancos para evitar uma crise de liquidez e a retração do crédito na economia.

De acordo com operadores de mercado, o BCE comprou títulos dos governos de Portugal e da Irlanda no mercado secundário, mas não da Itália e da Espanha, países também afetados pela crise de endividamento, cuja situação alarma ainda mais as autoridades.

Nas últimas semanas, a Itália, terceira maior economia da Zona do Euro, viu disparar seus custos de financiamento por causa da desconfiança dos investidores na solidez da dívida pública do país, que atinge 120% do Produto Interno Bruto (PIB). A exposição dos bancos à dívida italiana é bem maior que no caso da Grécia, Irlanda e Portugal ¿ países que já socorridos pelas autoridades europeias.

Com a escalada da crise, o BCE está sob forte pressão para agir e evitar o pior. O presidente da instituição, Jean-Claude Trichet, admitiu que a retomada da compra de bônus não foi uma decisão unânime do conselho diretor da entidade, ressaltando, no entanto, que ela teve apoio de uma "ampla maioria". No ano passado, o presidente do Banco Central alemão, Axel Weber, se opôs publicamente a essas operações.

Analistas disseram não estar convencidos de que a compra de bônus conseguirá interromper a propagação da crise para as praças italiana e espanhola. "O BCE pode ter perdido a oportunidade de agir de forma mais convincente. A chave agora é ver se ele vai intervir nos mercados de Espanha e Itália, e em que tamanho", disse o economista Holger Schmieding, do Berenberg Bank.

Trichet anunciou uma nova oferta de empréstimos de seis meses às instituições e informou que os bancos comerciais poderão ter socorro ilimitado de liquidez do BCE até pelo menos o fim do ano. Apesar disso, o dirigente sinalizou que a taxa básica de juros da Zona do Euro pode continuar a subir, contrastando com o afrouxamento monetário realizado pelos bancos centrais da Suíça e do Japão nesta semana. "Nós continuaremos a monitorar muito atentamente todos os acontecimentos com respeito aos riscos de alta à estabilidade de preços", declarou Trichet, usando a mesma expressão empregada pelo BCE após a elevação do juro básico, no mês passado, para 1,5% ao ano.