O globo, n. 29838, 17/04/2015. País, p. 6

Sob Vaccari, R$ 31 milhões à campanha de Dilma

Bruno Góes

A campanha de 2014 da presidente Dilma Rousseff recebeu R$ 31,6 milhões da Direção Nacional do PT, cujo caixa era administrado pelo tesoureiro afastado João Vaccari Neto. O valor repassado pela legenda à candidata à reeleição foi oriundo da doação de 21 empresas, entre elas empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. Do partido, saiu pouco mais de R$ 1 milhão doado pela Andrade Gutierrez; R$ 1,9 milhão, da Odebrecht; e R$ 2,8 milhões, da Braskem, num total de R$ 5,7 milhões.

Em 2010, foram repassados R$ 171 mil do caixa da Direção Nacional do partido à campanha de Dilma. As empresas, no entanto, não são especificadas, porque a legislação não obrigava os partidos a identificar a origem das doações nos repasses da Direção Nacional às campanhas.

O ex-gerente de serviços da estatal Pedro Barusco afirmou em sua delação premiada que Vaccari recebeu cerca de US$ 200 milhões em nome do PT no esquema investigado pela Lava-Jato. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, Vaccari participava de reuniões com o ex-gerente de Serviços da estatal Renato Duque para tratar de pagamentos de propina, que eram repassados por meio de doações oficiais ao PT. Dessa maneira, os valores chegavam como doação lícita, mas eram oriundas de propina. O Ministério Público Federal aponta que foram 24 doações em 18 meses, no valor de R$ 4,2 milhões.

O tesoureiro do PT indicava em que contas deveriam ser depositados os recursos de propina, segundo o Ministério Público Federal. “Vaccari tinha consciência de que os pagamentos eram feitos a título de propina”, afirma o procurador Deltan Dallagnol, na denúncia que foi aceita pela Justiça Federal do Paraná.

À PROCURA DE UM SUBSTITUTO

Para evitar que a prisão de Vaccari afete ainda mais a imagem já desgastada do governo federal, a equipe da presidente passou a usar o discurso de que o tesoureiro afastado, após ser preso anteontem pela Polícia Federal, não era diretamente responsável pela arrecadação das campanhas de Dilma. Nas eleições do ano passado, essa tarefa foi de Edinho Silva, atual ministro da Secretaria de Comunicação Social. Em 2010, o responsável pelas finanças da campanha foi o ex-deputado José Fillipi Júnior.

O substituto de João Vaccari Neto na tesouraria do PT deverá ser anunciado hoje, após reunião do Diretório Nacional do partido. Os dirigentes procuram um nome sem problemas jurídicos, comprometido com o núcleo central da sigla e que seja apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se disponha a enfrentar uma crise nunca antes vivida pelo partido e tempos de vacas magras.

Segundo dirigentes, seria importante que o novo tesoureiro tivesse um mandato parlamentar, para se proteger do que os petistas consideram uma ofensiva do Judiciário contra o partido. Um dos nomes cogitados para o cargo é o do deputado estadual José Américo (SP), hoje secretário de Comunicação.

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Oposição já reúne assinaturas suficientes para instalar a CPI do BNDES na Câmara

Deputados querem investigar empréstimos concedidos nos governos Lula e Dilma

André de Souza

A oposição reuniu 198 assinaturas para criar a CPI do BNDES na Câmara. Só não apoiaram o movimento parlamentares do PT, PCdoB e PSL. O objetivo é investigar empréstimos feitos pelo banco entre 2003 e 2015, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Os deputados querem fazer um pente-fino nos empréstimos concedidos a Cuba e a Angola, às empresas investigadas na Lava-Jato e às de Eike Batista, além do setor frigorífico. A oposição critica a falta de transparência e os prejuízos resultantes dela.

A CPI do BNDES, protocolada ontem, é a segunda tentativa da oposição de investigar o banco. Na semana passada, 29 senadores, dois além do necessário, apoiaram a criação de uma CPI no Senado, mas seis retiraram apoio após pressão do governo.

A CPI da Câmara não pode mais ter apoios retirados, mas isso não é garantia de que ela será instalada de imediato. Podem funcionar simultaneamente na Câmara cinco CPIs. Hoje, há quatro: Petrobras, Violência contra Jovens Negros e Pobres, Sistema Carcerário Brasileiro e Máfia das Órteses e Próteses no Brasil. Outras seis CPIs, sem contar a do BNDES, estão na fila.

Decisões colegiadas

Em depoimento na CPI da Petrobras, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, admitiu ontem que contratos com empresas investigadas na Lava-Jato podem ser revistos. Ele disse que a Petrobras é vítima dos atos ilícitos investigados e que a orientação do Conselho de Administração da estatal, presidido por ele, é buscar ressarcimento:

- O BNDES cumpre estritamente a lei nos seus procedimentos. Nossa obrigação é zelar pela melhor prática bancária. Contratos realizados juridicamente perfeitos podem ser reavaliados, se houver mudança na classificação de risco do projeto.

Ele foi chamado à CPI para falar do financiamento à empresa Sete Brasil, formada para construir sondas de perfuração da camada do pré-sal. De acordo com ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, houve irregularidades no financiamento. Coutinho negou que o BNDES tenha desembolsado recursos para a Sete Brasil e disse que as decisões do banco são colegiadas e baseadas nas boas práticas bancárias

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Laboratório sob suspeita pagou R$ 7,8 milhões por consultoria do ex-ministro José Dirceu

Só em 2013, ano do contrato investigado, EMS repassou à JD Assessoria R$ 1,8 milhão

Mariana Sanches e Germano Oliveira

SÃO PAULO - O laboratório farmacêutico EMS, investigado na Operação Lava-Jato por parceria feita com a Labogen — empresa ligada ao doleiro Alberto Youssef — para obter um contrato no Ministério da Saúde, foi a entidade que mais pagou pelos serviços de consultoria do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Entre 2009 e 2014, a JD Assessoria recebeu R$ 7,8 milhões da EMS. Em 2013, ano do contrato investigado, R$ 1,8 milhão.

A parceria entre o EMS e a Labogen seria para fornecer ao ministério medicamento com o princípio ativo citrato de sildenafila, usado para combater a disfunção erétil, e renderia às empresas R$ 134,4 milhões em cinco anos. Em 2013, de acordo com investigações da PF, o deputado federal cassado e ex-petista André Vargas fez gestões junto à cúpula do Ministério da Saúde para a realização da parceria, que, no entanto, acabou suspensa tão logo surgiram as primeiras denúncias de corrupção, no início de 2014.

Em depoimento à Justiça, o empresário Leonardo Meirelles, da Labogen, afirmou que vinha tentando participar do programa de parceria com o Ministério da Saúde desde 2010, mas que a situação só se resolveu a seu favor com a “entrada no jogo” de Vargas. No depoimento, ele afirmou que passou a ter reuniões com o então diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde do Ministério da Saúde, Eduardo Jorge Valadares Oliveira, que, para o delator, atuaria dentro do ministério “na defesa dos interesses da EMS”.

Intercepções de mensagens eletrônicas de Meirelles e seus sócios mostram que a parceria entre Labogen e EMS foi imposta pelo Ministério da Saúde.

Por meio de sua assessoria, Dirceu negou ter intermediado qualquer negócio da EMS com o Ministério da Saúde. “A JD Assessoria e Consultoria informa que prestou serviços à EMS na prospecção de negócios nos mercados de Cuba e Portugal”.

Já a EMS informou que não chegou a receber nenhum valor do ministério, uma vez que a parceria acabou não sendo celebrada. A pasta, por sua vez, disse que a sindicância administrativa interna não encontrou irregularidades na negociação entre as empresas.