Ex - diretor aponta para cunha

Correio braziliense, n. 19975, 09/05/2015. Política, p. 3

Eduardo Militão

André Shalders

O ex-chefe da informática da Câmara Luiz Eduardo Souza da Eira disse que foi o perfil de usuário do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quem criou os arquivos dos requerimentos para, supostamente, constranger uma empresa a pagar propinas no esquema de desvios da Petrobras. O ex-diretor do Centro de Informática (Cenin) afirmou a dois procuradores e um delegado da Polícia Federal que não procede o argumento do deputado de que os documentos tenham sido fraudados, e garantiu que uma auditoria da própria Casa confirmou isso. Ontem à noite, o procurador Rodrigo Janot disse que o depoimento reforça as suspeitas contra Cunha.

De acordo com o operador Júlio Camargo, o lobista Fernando Baiano, elo do PMDB na Petrobras, era um dos destinatários de US$ 40 milhões em propinas para que a estatal comprasse dois navios da Samsung Heavy, associada à Mitsui. Os subornos começaram a atrasar e Camargo recorreu ao doleiro Alberto Youssef para honrar os pagamentos. Mas, segundo Youssef, Eduardo Cunha ordenou a criação de dois requerimentos contra a Mitsui na Câmara para constrangê-la a pagar Baiano. Cunha foi demitido do cargo por Cunha pouco antes de a notícia ser publicada na Folha de S.Paulo.


Os requerimentos foram apresentados pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), mas as propriedades do arquivo mostram que seu autor foi “dep. Eduardo Cunha”. De acordo com depoimento de Luiz Eira, prestado em 29 de abril na Procuradoria-Geral da República (PGR), a senha do parlamentar é pessoal e intransferível. Ele disse que seria possível, por exemplo, que Eduardo Cunha tivesse produzido os dois requerimentos com seu usuário e senha e os enviasse a Solange Almeida.

Ontem à noite, Eduardo Cunha negou novamente a autoria dos documentos e levantou a hipótese de um funcionário ter usado sua senha. “Os códigos dos deputados são normalmente utilizados por seus assessores”, justificou ele, na rede social Twitter. “No meu caso, eu sequer sei o meu código.” A argumentação segue a linha de atitudes tomadas pela gestão de Cunha esta semana. Na quarta-feira, a Mesa da Câmara publicou um ato que permite aos deputados transferirem aos assessores a responsabilidade por ações que envolvem o uso de senhas privativas dos congressistas, inclusive a assinatura de projetos e requerimentos de informações.

Ontem, Eduardo Cunha destacou que Júlio Camargo desmentiu o depoimento de Youssef. O presidente da Câmara disse que demitiu Luiz Eira porque ele não cumpria obrigação “de exigir a carga horária dos servidores subordinados”.

Pedidos
Depois do depoimento de Eira, o procurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot, pediu que a Câmara informasse vários registros eletrônicos para embasar a investigação. Ele quer datas em que foram incluídos os requerimentos originais em formato Word contra a Mitsui no sistema da Casa. Janot pediu ainda os cadastros do usuário de Eduardo Cunha e Solange Almeida no sistema, além dos registros de acesso, certidão positiva ou negativa sobre eventual modificação dos arquivos de computador e impressões das telas de autenticação dos documentos.



Vaccari quer Tarso Genro de testemunha
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari pediu que o relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), e o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro sejam suas testemunhas de defesas. Genro foi um dos petistas que defenderam o afastamento de Vaccari do cargo em 30 de março. O juiz Sérgio Moro pediu anteontem que Vaccari esclarecesse se é mesmo preciso ouvi-los: “Tais agentes públicos servem à comunidade e não se afigura correto dispender o seu tempo, além do desse juízo, ouvindo-os sem que haja real necessidade”. “Há a possibilidade de que tais testemunhas tenham sido arroladas apenas com propósitos meramente abonatórios.”