O globo, n. 29830, 09/04/2015. País, p. 4

O papelão de Pepe

Luiza Damé

O petista Pepe Vargas completou ontem a série de trapalhadas que ocorrem desde segunda-feira no troca-troca envolvendo a articulação política do Palácio do Planalto. Convidado pela presidente Dilma Rousseff para assumir a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Pepe se antecipou ao anúncio oficial: convocou uma entrevista coletiva e anunciou ontem a saída da ministra Ideli Salvatti, que oficialmente continuava à frente da pasta de Direitos Humanos. Apenas quatro horas depois da entrevista, o Planalto confirmou a troca de Ideli por Pepe.

— A presidente Dilma me convidou para ir para a Secretaria de Direitos Humanos. Coloquei para a presidente que poderia ajudar o seu governo, o Brasil e o povo brasileiro através do meu mandato na Câmara dos Deputados. A presidente insistiu, querendo que eu permanecesse na sua equipe — afirmou Pepe, aproveitando para estocar o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que recusou o convite para assumir a articulação política.

— Sou daqueles que acham que as pessoas são os seus valores e as suas circunstâncias. Dentro dos meus valores, acredito que não deve se dizer não a um pedido da presidente da República para ajudar o Brasil. Fiz isso em 2012, quando ela me pediu para ir para o MDA ( Ministério do Desenvolvimento Agrário), fiz isso em dezembro do ano passado, quando ela pediu para eu ir para a SRI ( Secretaria de Relações Institucionais) e faço agora, quando ela me pede para ir para a Secretaria de Direitos Humanos — disse Pepe.

Após quatro minutos de entrevista, convocada por ele, Pepe recebeu um bilhete e saiu para atender a um telefonema. Quando voltou, três minutos depois, o discurso era outro:

— É importante dizer que a presidente não confirmou essa questão da SDH, não houve um comunicado oficial — disse Pepe: — Se houver a nota oficial, eu posso virar ministro da SDH. Enquanto não houver a nota oficial, não existe ministro da SDH ou de qualquer outra área do governo.

Ele negou que o telefonema fosse de Dilma. O petista disse que não ficou magoado com ela pela forma como ficou sabendo, na última segunda-feira, de sua demissão da SRI. Dilma costurou a mudança, mas não avisou Pepe, que soube pela imprensa de que sairia da articulação política para dar lugar a Padilha. Este acabou recusando o cargo, e o vice Michel Temer assumiu a função.

Pepe fez um balanço positivo da sua passagem pela SRI. Disse que, em quatro meses, 75% das matérias do governo foram aprovadas na Câmara, mas admitiu problemas:

— É inegável que em algumas matérias houve um ruído forte entre as posições do PMDB e as posições do governo.