Valor econômico, v. 15, n. 3739, 18/04/2015. Empresas, p. B3

 

Produção da Petrobras cai à menor média desde agosto

 

Por André Ramalho e Rodrigo Polito | Do Rio

 

Leo Pinheiro/ValorPara 2015, meta da estatal é aumentar em 4,5% a produção de petróleo, com margem de erro de um ponto percentual

A produção nacional de petróleo da Petrobras caiu pelo terceiro mês seguido, em março, para a menor média desde agosto do ano passado, mesmo com a entrada em operação de quatro novas plataformas ao longo dos últimos meses. Impactado por paradas temporárias de plataformas como a P-58, a P-57 e a P-20, o desempenho da companhia no primeiro trimestre do ano coloca pressão sobre a geração de caixa e a curva de produção da companhia. Ao todo, a estatal produziu, no mês passado, 2,108 milhões de barris diários, uma queda de 1,8% na comparação com o mês anterior.

A corretora Concórdia lembra que a Petrobras já havia sinalizado que não conseguiria manter o nível de produção de dezembro, quando a estatal registrou recorde de produção de 2,212 milhões de barris/dia no país, e por isso, trabalhava com estimativas mais modestas para o avanço da produção média em 2015. Para este ano, a Petrobras fixou uma meta de aumento de 4,5% na produção de óleo, com margem de erro de um ponto percentual para baixo ou para cima.

"Contudo, mantido o quadro de desaceleração por tempo persistente, e tendo no seu caminho os desafios para executar investimentos dentro de sua limitação orçamentária, eleva-se o risco de mesmo sua estimativa conservadora tornar-se otimista", informou a corretora Concórdia, em relatório divulgado na sexta-feira passada, que destaca que a divulgação do balanço financeiro de 2014, nesta semana, deve trazer mais clareza sobre as perspectivas em torno da meta de produção para 2015.

Vale lembrar que, até o fim do ano, a Petrobras planeja a entrada em operação de apenas mais uma plataforma, o FPSO Cidade de Itaguaí, que vai operar em Iracema Norte com uma capacidade de 150 mil barris/dia a partir do quarto trimestre.

Apesar do baixo desempenho no terceiro trimestre, quando a produção de óleo da Petrobras registrou quedas sucessivas desde dezembro, a companhia acumula um crescimento de 11,8% no primeiro trimestre deste ano, frente a igual período do ano passado, ou seja, média acima da meta de aumento da produção traçada para este ano. Entre janeiro e março de 2015, a estatal produziu, em média, 2,148 milhões de barris/dia de óleo no Brasil.

Já na média dos últimos 12 meses terminados em março de 2015, a produção de petróleo da Petrobras no Brasil acumula uma média de 2,09 milhões de barris/dia, o que representa uma alta de 8,05% na comparação com igual período exatamente anterior.

A Planner destaca negativamente a parada não programada da P-58, por 13 dias no mês passado e por 21 dias no total, entre 18 de março e 8 de abril, devido a não conformidades na operação. A unidade opera no Parque das Baleias, na Bacia de Campos, com capacidade para produzir 180 mil barris/dia de óleo e 6 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural.

Além das paradas não programadas da P-58 e do FPSO Cidade de São Mateus, onde uma explosão matou nove trabalhadores em março, a produção da Petrobras neste ano deve ser impactada também por paradas programadas para manutenção.

Em janeiro, na última entrevista coletiva da antiga gestão da estatal, o então diretor de Exploração e Produção (E&P), José Miranda Formigli, disse que em 2015 haveria aumento do número de interrupções planejadas em plataformas de produção. A expectativa do ex-diretor era que, em média, 50 mil barris/dia deixassem de ser produzidos ao longo do ano por causa de paradas programadas, frente aos 30 mil barris/dia registrados em 2014.

Já o destaque positivo da produção em março foi o novo recorde de produção no pré-sal. A produção operada pela estatal atingiu 672 mil barris/dia no pré-sal, alta de 0,5% sobre o recorde alcançado em janeiro e de 70% na comparação com março de 2014.

Estatal garante mais R$ 18,7 bi para seu caixa

 

Por Camila Maia e Thaís Carrança | De São Paulo

Às vésperas de divulgar os balanços do terceiro trimestre e de todo o ano de 2014, a Petrobras anunciou no fim da sexta-feira que fechou contratos de financiamento e um acordo de cooperação com valor total de R$ 18,7 bilhões. Os recursos garantem a operação deste ano, diz a estatal.

Conforme a Petrobras, foram firmados contratos de financiamento com o Banco do Brasil (R$ 4,5 bilhões), Caixa Econômica Federal (R$ 2 bilhões) e Bradesco (R$ 3 bilhões). Além disso, a empresa firmou um acordo de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,2 bilhões) com o britânico Standard Chartered.

Para tranquilizar o mercado sobre suas necessidades de caixa, além do pacote de financiamento anunciado na sexta-feira, a Petrobras já informou que vai trabalhar para antecipar parte das necessidades de recursos para 2016. Durante a semana, em evento, a agência de rating Fitch declarou que, se a estatal não obtive mais captações, fecharia o ano com caixa entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões.

No momento, a grande incerteza dos investidores está relacionada ao ajuste contábil que a estatal fará nos balanços que serão publicados em 22 de abril. Mas a atenção também está voltada, principalmente, para informações que determinem os rumos futuros da companhia, como venda de ativos, redução de investimentos e o futuro dividendos.

A Petrobras deve surpreender positivamente os investidores com a previsão de investimentos abaixo do esperado para 2015 e 2016 sem, porém, comprometer as estimativas para o crescimento da produção no médio prazo, afirma o Citi.

Já um analista de um grande banco que pediu para não ser identificado ressalta que esse corte de investimentos é um número difícil de prever. "A Petrobras já tem problemas de produção, e não tem dinheiro para pagar os investimentos neste ano com o patamar atual do Brent", explica. Para o Citi, será importante a Petrobras informar detalhes sobre potenciais rolamento de dívidas com vencimento neste ano e no próximo, além de detalhes sobre a política de preços de combustíveis.

Em meio aos problemas de caixa enfrentados pela companhia, passada a publicação do balanço, o mercado deve aguardar para ver como a nova administração vai lidar com o endividamento, de acordo com o Deutsche Bank.

Ao publicar o balanço antes do fim de abril, a Petrobras vai cumprir as cláusulas restritivas sobre a dívida, impedindo uma aceleração do seu vencimento. Mesmo assim, a nova administração da estatal precisará se concentrar na revisão do plano de negócios e na comunicação com o mercado.

Os investidores esperam também que a estatal realize teleconferência com os analistas logo após publicar os resultados. A companhia, porém, ainda não informou quando isso vai ocorrer. Para o Deutsche Bank, esse momento vai ajudar a esclarecer as expectativas da companhia para investimentos, crescimento da produção, financiamento e venda de ativos.

Um ponto importante na divulgação dos resultados é o comentário dos administradores da companhia sobre a expectativa de redução de investimentos e prazo para venda de ativos para levantar caixa, afirma o Bank of America Merrill Lynch (BofA). O banco, porém, não espera que os resultados sejam um "catalisador" para as ações, devido à natureza não caixa da baixa contábil, que "reduz a importância da questão".