Brasil e China assinam acordos com previsão de investimentos bilionários

Lisandra Paraguassu

 

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, chegou ao Brasil com promessas de recursos que fizeram brilhar os olhos das autoridades, mesmo que a maioria ainda seja apenas de boas intenções. Foram anunciados 35 acordos. Entre os principais acordos, foi assinado um memorando que prevê a criação de um fundo bilateral para investimento em infraestrutura que pode chegar a US$ 50 bilhões, um crédito para a Petrobrás de US$ 7 bilhões e outro para a Vale de US$ 4 bilhões.

No papel, os chineses demonstraram interesse em investir em projetos de infraestrutura, em andamento ou ainda apenas em fase de planejamento, que chegam a US$ 53,3 bilhões. E, na conversa privada com Dilma Rousseff - ou seja, sem entrar na lista oficial de acordos -, Keqiang ainda propôs outra linha de crédito, dessa vez em torno de US$ 20 bilhões, apenas para siderurgia, cimento, vidro, material de construção, equipamentos e manufaturados.

No governo brasileiro, ninguém esconde o interesse nos recursos que os chineses são capazes de trazer, mesmo que até agora não haja nenhuma garantia de que todos esses dólares chegarão. “O anúncio é significativo do interesse chinês numa cooperação financeira que é particularmente necessária para o crescimento do Brasil”, avaliou o subsecretário-geral de Política II do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima, responsável pelo relacionamento com a região asiática.

Em seu discurso, a presidente Dilma comemorou a assinatura do acordo para investimentos chineses em infraestrutura, e revelou “enorme satisfação” com a proposta de Keqiang de outro fundo para “capacidade produtiva”. “Eu recebi com muita satisfação a proposta que me fez hoje o primeiro-ministro, de criação de um fundo bilateral de cooperação produtiva, da ordem de US$ 20 bilhões.”

As ofertas de recursos mostram o apetite chinês por obras de infraestrutura. De acordo com o primeiro-ministro, seu país tem recursos e tecnologia para exportar - com reservas financeiras recordes, a China procura investimentos no mundo todo e, depois de dominar a África, voltou suas atenções para a América Latina.

Lista de interesse

Os chineses apresentaram ao Ministério do Planejamento uma lista de 52 obras de interesse deles. A lista não entrou no acordo porque o governo brasileiro não quis se comprometer em confiar os projetos aos chineses, apesar da garantia de financiamento. “Seria pouco recomendável que incluíssemos obras que estão para ser licitadas ou uma listagem de obras em andamento em um acordo”, afirmou Marcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa.

Essas obras poderão ou não ser financiadas pelos recursos de outra proposta chinesa, a de um fundo a ser administrado pelo banco ICBC e pela Caixa, que pode chegar a US$ 50 bilhões, mas ainda não tem valor definido. “Temos 60 dias para definir os setores, os projetos e quais mecanismos de gestão desse fundo. Temos potencial de fazer alguma coisa muito grande”, disse Percival.
Confiança. Já o fundo de investimento em capacidade produtiva ainda é apenas uma ideia, levantada pelo primeiro-ministro chinês no encontro privado com Dilma, mas sem nada definido.

Em seu discurso, Dilma ressaltou a “confiança” dos chineses na Petrobrás. Em dificuldades financeiras, a estatal obteve dos chineses mais US$ 7 bilhões em dois financiamentos, do ICBC e do Eximbank chinês, além dos US$ 3,5 bilhões anunciados há cerca de um mês.

O mais concreto anunciado no encontro de ontem foi o destravamento de duas promessas feitas pelos chineses há um ano: a liberação da exportação de carne de oito frigoríficos brasileiros, barrados desde o caso extemporâneo do Mal da Vaca Louca no Paraná, em 2012, e a primeira compra efetiva de 22 aeronaves da Embraer.