Editora suspeita de lavar dinheiro de propina pertence a sindicatos

A gráfica que, segundo procuradores, lavou R$ 2,5 milhões de propina desviada da Petrobras para o PT pertence ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e ao dos Bancários. ­ SÃO PAULO­ Apontada pelo Ministério Público Federal como uma das empresas usadas para lavar o dinheiro do PT, a mando do tesoureiro João Vaccari Neto, a editora Gráfica Atitude pertence a dois sindicatos: dos Metalúrgicos do ABC e dos Bancários, do qual Vaccari foi presidente. A gráfica teve entre seus diretores o ex­vice­presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) José Lopes Feijóo. Segundo as investigações, a empresa recebeu R$ 2,5 milhões de propina desviada da Petrobras. A Atitude foi condenada por fazer campanha ilegal para Dilma Rousseff nas eleições de 2010

lma Rousseff nas eleições de 2010. A editora, que funciona no 19 º andar de um prédio no Centro de São Paulo, é responsável pela “Revista do Brasil”, pelo site “Rede Brasil Atual” e um programa de rádio, publicações que apoiam o governo.

No mesmo local também funcionam as redações dos jornais dos dois sindicatos. Segundo dados da Junta Comercial de São Paulo ( Jucesp), Feijóo, hoje assessor especial da Secretaria­Geral da Presidência, fez parte dos quadros da empresa até 2010. Para o juiz federal Sérgio Moro, desta vez não há como falar que as operações feitas por Vaccari foram legais, tese defendida pelo PT:

“Não há como se cogitar, em princípio, de falta de dolo dos envolvidos, pois não se tratam de doações eleitorais registradas, mas pagamentos efetuados, com simulação, total ou parcial, de serviços prestados por terceiro, a pedido de João Vaccari Neto”, disse Moro.

O esquema com a gráfica foi descoberto após novo depoimento prestado pelo empresário Augusto Mendonça, da Setal Óleo e Gás, um dos delatores do esquema de corrupção, aos investigadores. No dia 31 de março deste ano, ele afirmou que Vaccari pediu de R$ 2,5 milhões à Atitude a título de propina. O tesoureiro teria dito que, “ao invés da realização de doações ao PT, contribuísse com pagamentos a Editora Gráfica Atitude”.

Para justificar o pagamento, feitos em 2010, 2011 e 2013, Mendonça e a editora fecharam contratos nos moldes dos serviços de consultoria feitos pelo doleiro Alberto Youssef. Nos dois casos, os procuradores entendem que houve falsa prestação de serviços.

O delator disse ainda não se recordar se, de fato, foram fechados anúncios com a gráfica, mas, segundo a Justiça, ele disse que o negócio não custaria mais de R$ 2 milhões.

Entre 2008 e 2014, a empresa suspeita de lavar recursos para o PT recebeu do governo federal R$ 62 mil em verba publicitária. Ao GLOBO, o diretor da Gráfica Atitude, Paulo Salvador, disse que não vai se manifestar até que tenha acesso à denúncia. O governo federal não se pronunciou.

A ligação entre a Gráfica Atitude e o PT é antiga. Em abril de 2012, o TSE considerou que a edição da “Revista do Brasil” de outubro de 2010, enalteceu a candidatura de Dilma “em manchetes, textos e editoriais, como se a candidata fosse a mais apta a ocupar o cargo”. Além disso, segundo o TSE, a publicação fez propaganda negativa de José Serra, então candidato do PSDB à Presidência. A revista mantida pela CUT foi distribuída a 360 mil trabalhadores. O TSE multou em R$ 15 mil a empresa e a CUT.