Valor econômico, v. 15, n. 3746, 01/05/2015. Brasil, p. A2

 

Mais da metade dos brasileiros usa dispositivo móvel para se conectar

 

Por Robson Sales | Do Rio

Falta de infraestrutura para a oferta de internet fixa, preço mais acessível do aparelho e facilidade de mobilidade são três dos fatores que levam os brasileiros, cada vez mais, a acessar a internet por smartphones e tablets, em detrimento dos computadores. Um levantamento inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) revelou que 57,3% das residências acessam a web pelos dispositivos móveis.

Os números indicam o crescimento da importância dos smartphones e tablets na utilização da internet. Considerando o uso somente desses outros equipamentos, houve um acréscimo de 7,2 milhões no número de pessoas que utilizaram a internet em 2013. Esse contingente representava 4,1% das pessoas com mais de 10 anos.

 

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Segundo o vice-diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth Motta Marins, "essa é uma tendência irreversível". Segundo o IBGE, houve uma queda em números absolutos de pessoas que utilizaram a internet por meio do microcomputador: em 2011, segundo os dados reponderados da PNAD, foram 78,7 milhões (46,5%); em 2013 esse número havia caído para 78,3 milhões de pessoas (45,3%).

Mas o microcomputador, no entanto, ainda é o tipo de equipamento utilizado para acessar a web pela maior parte da população brasileira, 88,4% dos que estão conectados - o que não exclui conexões também pelos dispositivos móveis.

Segundo a análise, a utilização do computador como único equipamento de acesso à web prevalece na maior parte do país, exceto nos Estados de Sergipe (28,9%), Pará (41,2%), Roraima (32%), Amapá (43%) e Amazonas (39,6%). Nessas regiões é maior a proporção de pessoas que utilizam a internet somente por smartphone ou tablet.

"O computador é um bem mais caro. Nós vemos nesse ponto uma relação forte com a renda", disse a gerente do IBGE, Maria Lucia Vieira. Preço e falta de infraestrutura são dois fatores que dificultam o acesso para milhares de brasileiros, principalmente no Norte.

Segundo o levantamento divulgado ontem, 8,7% dos domicílios da região acessam a web apenas por meio de outros equipamentos, que não o computador. É a maior taxa em todo o Brasil. No Centro-Oeste, esse número chega a 4,4%; no Sudeste, 3,9%; no Nordeste, 3,6%; e no Sul, 3,4%. Entre os Estados, o Amapá é o que tem a maior proporção de pessoas usando somente o smartphone ou tablet para entrar na internet: 43% utilizam apenas dispositivos móveis, contra 11,9% que se conectam só pelo computador.

As empresas de telefonia resistem levar o serviço para essas regiões por causa do alto custo na implementação da rede. No entanto, segundo o gerente de projetos do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, Pedro Lucas Araújo, o governo tem criado programas para forçar as empresas a estender a cobertura.

"Esses dados corroboram [a informação] que no Norte o celular tem sido o principal equipamento de acesso a internet, o que está muito relacionado ao preço", afirmou a técnica do IBGE responsável pela pesquisa, Jully Ponte.

"O próximo passo é uma política agressiva de expansão de infraestrutura, baseada em fibra ótica e o segundo é continuar as inciativas de barateamento, tanto de aparelhos quanto do próprio acesso", afirmou Araújo.

A pedido do governo, pela primeira vez o IBGE pesquisou a abrangência do serviço de TV paga e de receptores do sinal digital. O objetivo é obter dados para avaliar a implementação do sinal digital e entender quando será possível desligar o analógico.

Segundo análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), 28,5% dos domicílios sem recepção de sinal digital de televisão aberta também não possuem TV por assinatura nem antena parabólica. Para Jully Ponte, "esses são os que dependem do atual sinal analógico e onde o Ministério das Comunicações terá que se debruçar".

Especialistas acreditam, porém, que o número de pessoas com acesso ao sinal digital é bem maior, devido à venda de televisores no período de Copa do Mundo. "A maior parte das emissoras se preparou para transmitir a Copa por sinal digital. E o aparelho na casa das pessoas está muito atrelado à capacidade que o usuário tem de fazer uso do equipamento", afirmou Carlos Nazareth, do Inatel.