Democratização aérea na corda bamba
Correio braziliense, n. 18984, 18/05/2015. Opinião, p. 11
Eduardo Sanovicz
Somos mais de 100 milhões de passageiros a voar em companhias aéreas brasileiras a cada ano. Esse feito, que faz o Brasil, há algum tempo, se orgulhar de ser o terceiro maior mercado doméstico do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, está à prova com o cenário político-econômico: crescimento em xeque, revisão de políticas do governo e o dólar se valorizando. Tudo isso representa ameaça à democratização do transporte aéreo promovida pelas quatro fundadoras da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) — Avianca, AzuL, Gol e TAM —, que conquistaram escala inédita na última década, por meio de ganhos de eficiência que foram repassados ao passageiro.
Em 2002, foram 36 milhões de passageiros, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em 2013, o número saltou para 111 milhões. Somente as integrantes da Abear transportaram, no ano passado, mais de 100 milhões de passageiros.
Esse histórico avanço só foi possível porque o preço médio das passagens aéreas caiu em torno de 40% no período de uma década, recuando de R$ 545, em 2002, para R$ 326, em 2013. Tal fenômeno aconteceu depois da liberalização das tarifas em 2002, a partir de quando foi possível maior disputa comercial, associada ao aumento de renda dos brasileiros.
A nova realidade revolucionou a aviação. Ao oferecerem preços mais em conta, as empresas aéreas permitiram a inclusão de novo perfil de passageiros. Exemplo são aqueles que, pela primeira vez, puderam se conectar com parentes e amigos por meio dos rápidos voos de avião, em vez das longas viagens de ônibus.
Para atender tal contingente, as companhias associadas à Abear têm investido fortemente em aviões mais modernos, com menor consumo de combustível e reduzida emissão de gases poluentes. Assim, dispomos hoje de uma das frotas mais novas do mundo, com idade média de 6,4 anos, praticamente a metade da média mundial.
Também foram aplicados muitos recursos e esforços em pessoas, tecnologia e segurança. Afinal, temos um dos melhores índices de segurança aérea do mundo: entre 2009 e 2014, o Brasil não registrou nenhum acidente aéreo com perda total do avião, enquanto a média mundial foi de 0,53 por milhão de decolagens, segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo (da sigla em inglês Iata).
Com tudo isso, comprar um bilhete, fazer o check-in ou embarcar em um aeroporto são ações que se tornaram parte do dia a dia dos brasileiros na última década, fruto de esforços de todos os atores da aviação comercial no país.
Voos para mais de 100 aeroportos e bilhetes a preços baixos formam uma equação que precisa avançar para incluir mais milhares de brasileiros no modal aéreo. Mas, no caminho, há os desafios históricos, como o preço do combustível dos aviões, responsável por cerca de 40% dos custos do setor, e os impostos que incidem sobre toda a cadeia de serviços do transporte aéreo.
É preciso discutir medidas que revertam o quadro de mais oneração, como prevê o governo federal. Também é necessária política mais clara e ousada para as concessões dos aeroportos, e ações que minimizem o descontrole do dólar, responsável, em média, por 60% dos custos das empresas aéreas brasileiras.
Não são medidas fáceis nem serão tiradas da cartola, mas é preciso preservar o que conquistamos. Durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014, nossas companhias obtiveram 92% de pontualidade em todos os voos, índice semelhante ao do último carnaval, quando mais passageiros passaram pelos aeroportos do que no torneio de futebol.
Todos os dados mostram o empenho do setor em oferecer serviço de excelência para os clientes, com racionalização da oferta de assentos e de custos, entre outras medidas que vêm sendo tomadas. Nossos passageiros mostram que estamos na rota certa, quando dados dos Procons revelaram, em 2013, apenas uma queixa a cada 10 mil passageiros embarcados. As conquistas são resultado do nosso empenho em disponibilizar transporte de qualidade e de acesso a todos. Não abrimos mão deste legado.