A Petrobras fará um mau negócio se vender sua participação na Braskem com a ação em baixa, mas se quiser que seu ativo se valorize terá que fazer um acordo que tem adiado há mais de um ano, de fornecimento de nafta. Clientes da Braskem pararam investimentos porque não têm garantia de suprimento de produtos. E a empresa não pode dar essa garantia porque não tem acordo com a Petrobras.

A nafta e o gás são usados como matéria-prima da petroquímica, que, por sua vez, produz os insumos básicos de inúmeros outros produtos da cadeia produtiva. A estatal é, ao mesmo tempo, dona de 48% das ações com direito a voto, de 36% do capital total, com quatro das 11 cadeiras do Conselho de Administração, e é a fornecedora da matéria-prima básica para a Braskem. Apesar de ser de seu interesse fazer o acordo da nafta, desde fevereiro do ano passado ela tem apenas feito aditivos no contrato, prorrogando por períodos de seis meses, sem fechar a negociação.

Se quiser vender, terá antes que resolver essa pendência, do contrário desvalorizará seu próprio ativo. Em fevereiro do ano passado, venceu o contrato, e a Braskem pediu renovação com preços mais baixos diante da nova realidade criada no mercado de gás, a partir da produção do shale gás. Não houve concordância, então o contrato foi apenas prorrogado por mais seis meses e, depois, por outros seis meses. Em fevereiro, quando venceu o prazo, não havia sequer diretoria na Petrobras para tomar qualquer decisão, por isso foi feito novo aditivo. Com a falta de garantia de suprimento de matéria-prima e as notícias de envolvimento da Braskem na Operação Lava-Jato, as ações da empresa caíram. A ação está sendo vendida a R$ 11 e já esteve em R$ 24.

A Petrobras não confirmou que pretende se desfazer dos ativos petroquímicos. Quando perguntada pela CVM sobre as notícias que saíram nos jornais, disse apenas que tem um plano de desinvestimento. No mercado, a avaliação é que esse seria um bom ativo para reter. Por outro lado, há muitos ativos da empresa que não têm liquidez alguma. A Braskem teria, mas, neste momento, quem comprasse viraria sócia da Odebrecht, no meio das investigações da Lava-Jato. A empreiteira tem o controle do capital e tem o direito de preferência no caso de a Petrobras querer se desfazer das ações.

Por causa da falta de um contrato de longo prazo de nafta, a preços competitivos, outros investimentos estão parados. A Sinthos, uma empresa polonesa, do Polo do Triunfo, que produz borracha sintética para pneus, suspendeu um investimento de R$ 700 milhões porque precisa que a Braskem lhe dê garantia de suprimento, e ela não pode fazer isso enquanto a própria petroquímica não fechar seu acordo de fornecimento de nafta com a Petrobras. É o mesmo caso da Styrolution, no Polo de Camaçari, um investimento de R$ 550 milhões, que processa outro subproduto usado na borracha que vai para a indústria da linha branca.

A falta de acordo entre a Petrobras e a empresa da qual é sócia fez com que o Ministério das Minas e Energia criasse um grupo de trabalho para discutir o tema, que tem, além das duas empresas e o MME, o Ministério do Desenvolvimento e o BNDES. O temor do governo é que esse impasse aumente o déficit comercial da área química e petroquímica, que foi de US$ 33 bilhões em 2014.

Nos últimos anos, o maior investimento da Braskem foi no México. Ao todo, US$ 5 bilhões foram investidos em uma planta na Província de Vera Cruz, para produzir um milhão de toneladas de polietileno, usando gás convencional, mas referenciado ao preço do shale gás. Deve entrar em operação em 2016. A negociação sobre o Comperj começou antes das tratativas para o investimento no México. O de lá está quase pronto, o daqui não se sabe o que será. Outro investimento da empresa que não saiu do papel foi o de uma planta na Venezuela.

Se a Petrobras vender a Braskem agora, será por preço baixo e com a enorme incerteza sobre a capacidade e os custos de produção da petroquímica. A Braskem pede um preço baixo da matéria-prima, alegando que o mercado de petróleo e gás passou por inúmeras mudanças de preços nos últimos anos. Mesmo se a empresa não for vendida, o impasse terá que ser superado até para evitar o risco de aumentar o déficit comercial brasileiro.