Valor econômico, v. 15, n. 3746, 01/05/2015. Finanças, p. C3

BC segue o script e eleva Selic a 13,25%

 

Por Eduardo Campos, Alex Ribeiro e Lucinda Pinto | De Brasília e São Paulo

O Banco Central (BC) aumentou ontem o juro básico da economia em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, maior percentual desde dezembro de 2008, por considerar que os progressos feitos até agora no combate à inflação ainda não são suficientes.

O breve comunicado divulgado logo após a reunião não dá indicações claras se o Comitê de Política Monetária (Copom) pretende parar de subir os juros ou diminuir o ritmo de aperto, em linha com a comunicação reiterada por representantes do BC nas últimas semanas de que a política monetária "foi, está e continuará vigilante" para cumprir o centro da meta de inflação, de 4,5%, em dezembro de 2016. A próxima reunião do Copom ocorre nos dias 2 e 3 de junho.

A nota à imprensa divulgada pelo Banco Central é praticamente cópia das divulgadas em reuniões anteriores: "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, sem viés."

Nos encontros anteriores, o Copom sinalizou, ao poucos, qual seria sua decisão seguinte. A ata de cada um dos encontros deixou portas abertas para altas tanto de 0,25 ponto como de 0,5 ponto, e pronunciamentos de autoridades do BC indicaram mais claramente a opção por um aperto mais forte.

A repetição do comunicado do Copom surpreendeu e é uma indicação de que uma nova alta de 0,5 ponto da Selic na reunião de junho segue no páreo, segundo a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro.

"Esperávamos alguma mudança no comunicado para indicar redução de ritmo para junho", afirma Alessandra, lembrando que a leitura da ata na semana que vem ficou ainda mais importante agora, de onde pode vir algum sinal que possa balizar as apostas daqui para frente.

Para a economista, o Copom parece tentar passar um recado ao mercado de que pode ir com a Selic para além dos 13,5% ao ano - algo já precificado pelo mercado. E, com isso, tentar levar as expectativas para a inflação para a meta. "Acho que o BC está tentando inverter a cabeça do mercado para ancorar expectativas para 2016", afirma.

O comunicado conciso e idêntico ao anterior dá ao BC "o benefício do tempo" para avaliar o desempenho da atividade, da inflação e a evolução do câmbio para conduzir as expectativas do mercado até o próximo encontro, segundo o do diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. "A ata, que será publicada na semana que vem, pode fornecer informações úteis sobre como o Banco Central vê o balanço de riscos para a inflação e o crescimento, pistas sobre o quão perto da inflação projetada para o fim de 2016 está perto da meta, de 4,5% e, portanto, se o Copom pode encerrar o ciclo na reunião de junho", afirma Ramos.

Para o economista, se o câmbio se estabilizar perto de R$ 3,25, o BC deve encerrar o ciclo com mais uma alta de 0,25 ponto percentual em junho. Mas não está completamente descartada a possibilidade de estabilidade da taxa na próxima reunião, caso a inflação surpreenda para baixo e o dólar ceda.

Entretanto, se o dólar subir para um nível mais alto, entre R$ 3,30 e R$ 3,35, então, o risco de outra alta de 0,5 ponto em junho vai crescer significativamente.

"Em nossa opinião, reancorar as expectativas e conduzir a inflação de volta à meta é um objetivo chave para que se reequilibre a economia", acrescenta Ramos.

Já o chefe de Pesquisas Econômicas para América Latina do Barclays, Bruno Rovai, considera mais provável que o ciclo de aperto monetário tenha sido encerrado ontem "Com a política fiscal mostrando melhora em junho, a inflação anual estabilizada, uma coleção de dados de atividade fracos, confirmando recessão, principalmente do lado do mercado de trabalho, o Copom deve manter o juro inalterado na próxima reunião", afirma.

Essa foi a primeira reunião com a participação dos novos diretores, Octavio Damaso (regulação) e Tony Volpon (assuntos internacionais), que votaram em linha com o presidente, Alexandre Tombini, e os demais diretores.

Projeções apresentadas pelo Banco Central no seu mais recente relatório de inflação indicam uma variação do IPCA de 4,9% em 2016, no chamado cenário de referência, que tomava como pressuposto a manutenção da Selic em 12,75% ao ano. Com a alta dos juros de ontem é possível que essa projeção tenha cedido um pouco mais. Para 2015, a projeção do BC era uma variação de 7,9% no IPCA.

Na última medição, o índice oficial apontava 8,22% no acumulado em 12 meses (IPCA-15 de abril). O Focus estima IPCA de 8,25% no fim deste ano e 5,6% no fim de 2016, ainda cima da meta de inflação e da própria projeção da autoridade monetária.

A mensagem dada até aqui por Tombini e outros membros do colegiado é de que política monetária seguirá vigilante para assegurar que os efeitos dos ajustes de preços relativos "fiquem circunscritos ao curto prazo e para que o IPCA convirja para o centro da meta de 4,5% no fim de 2016".