Dilma afirma que equipe econômica tem 'unidade'

Cláudia Trevisan

 

Cinco dias após a ausência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no anúncio do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões dar início a especulações sobre atritos na equipe econômica, a presidente Dilma Rousseff fez ontem, 27, na Cidade do México, o gesto mais direto para refutar divergências entre ele e o titular do Planejamento, Nelson Barbosa. Segundo ela, existe “unidade” entre a dupla na defesa do ajuste fiscal e a posição de ambos é “extremamente estável”.

“Nunca houve, desde o momento em que eles assumiram as suas funções, nenhum problema com eles”, afirmou Dilma, em seu último dia no México. A presidente disse que os cortes foram decididos pelos dois ministros e elogiou o trabalho da dupla. “Agora, eu queria dizer que o ministro Levy é um ministro dedicado, batalhador e trabalhador. Ninguém pode tirar isso do ministro Levy e também não pode tirar isso do ministro Nelson Barbosa.”

As declarações tentam pôr fim às notícias de divergências entre a dupla nas discussões para definir o contingenciamento. Na sexta-feira, 22, Levy alegou estar gripado e deixou Barbosa anunciar sozinho o corte de R$ 69,9 bilhões, valor abaixo do que vinha defendendo o titular da Fazenda. Na segunda-feira, novo desencontro: Levy participou de reunião com a coordenação política do governo, mas não Barbosa, que alegou dores lombares para se ausentar.

Naquele mesmo dia, o Planalto já havia iniciado a operação para negar rusgas entre Levy e Barbosa. O próprio ministro da Fazenda fez o primeiro gesto ao dizer que o contingenciamento veio no “valor adequado”.

Ontem, 27, os dois ministros finalmente participaram juntos de uma reunião de governo, ao lado de outros colegas de Esplanada. À tarde, Barbosa participou de audiência no Congresso e fez sua parte para pôr panos quentes na polêmica: “Minha principal divergência com o ministro Levy é que ele é Botafogo e eu sou Vasco”, afirmou. “Tirando isso, estamos trabalhando conjuntamente para recuperar o crescimento mais rápido possível.”

Conflito

Apesar dos esforços do governo em mostrar coesão na equipe econômica, até aliados, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), têm destacado diferenças entre os ministros. O petista defendeu anteontem, 26, o fortalecimento da ala “desenvolvimentista” do governo, que seria representada por Barbosa. No México, Dilma rebateu ontem essa declaração e cobrou o aliado. “Acho que estão querendo criar um conflito que não existe e lamento profundamente as posições do senador”, disse.

Lindbergh foi um dos três senadores do PT - ao lado do gaúcho Paulo Paim e do baiano Walter Pinheiro - que votou contra a medida provisória que restringe o acesso a benefícios trabalhistas, como seguro-desemprego e abono salarial, aprovada anteontem, 26. Ontem, 27, a bancada do PT votou inteira a favor da MP 664, que altera benefícios previdenciários, mas flexibiliza o cálculo para aposentadoria integral.

Dilma ressaltou que a posição de Lindbergh, próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não reflete a do PT. “Eu vou pedir encarecidamente que não se tome a parte pelo todo”, afirmou. “O senador é responsável pela sua compreensão do processo. O PT jamais, em momento algum, externou esse tipo de posição para mim.”

Samba

Em Brasília, Lindbergh rebateu as afirmações de Dilma e afirmou que sua posição em relação aos perfis dos ministros da equipe econômica não é isolada. Para o senador, a discussão sobre a condução da economia pelo governo será alvo de debates no 5.º Congresso Nacional do PT, que será realizado em Salvador daqui a três semanas.

“Debate sobre a política econômica não pode ser o samba de uma nota só, do ajuste”, afirmou Lindbergh, que na semana passada havia pedido a demissão de Levy e a mudança de rumos da política econômica. “Todo mundo sabe que o Nelson Barbosa é de uma escola econômica e o ministro Levy de outra escola.”

Lindbergh disse ter o “maior respeito” por Dilma e destacou que quer que o governo dela dê certo. “O futuro nosso, da esquerda, depende muito do governo dela der certo. Agora, a manifestação de opiniões diferentes não é uma coisa ruim”, afirmou. “O PT vai ter seu Congresso agora e nós tivemos na nossa formação política sempre questionando planos de austeridade. Quando estou falando de correção dos rumos da política econômica - e vou defender o governo dela - ela tem que defender com o programa que defendeu nas eleições, o programa vitorioso das eleições.”