Petição do MBL por impeachment tem apoio tímido

Lisandra Paraguassu

Daniel Carvalho

 

Pouco mais de um mês depois de sair de São Paulo caminhando, representantes do Movimento Brasil Livre - um dos grupos que lideram as manifestações contra a presidente Dilma Rousseff - entregaram ontem ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma petição pedindo o impeachment da petista. Do lado de fora, entre 300 e 400 manifestantes, de acordo com a Polícia Militar, promoveram um ato com faixas e bandeiras cobrando o impedimento de Dilma.

Um grupo entre 20 e 30 pessoas chegou na terça-feira a Brasília e ontem caminhou por aproximadamente quatro quilômetros entre o Parque da Cidade e a frente do Congresso Nacional. A marcha recebeu adesões e se concentrou no gramado em frente ao Congresso.

 

Integrantes do MBL são recebidos por Eduardo Cunha e deputados da oposição após marcha

Integrantes do MBL são recebidos por Eduardo Cunha e deputados da oposição após marcha

 

Ao chegarem, os jovens foram recepcionados por uma comitiva de parlamentares - entre eles, Jair Bolsonaro (PP-RJ), Alberto Fraga (DEM-DF) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) -, que bateram palmas e, de mãos dadas, erguerem os braços para homenagear os manifestantes. O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, não apareceu. O tucano, virou alvo do MBL e passou a ser chamado de 'traidor' desde que abandonou a tese do impeachment.

O pedido apresentado ontem está fundamentado na tese das chamadas pedaladas fiscais - manobra usada pelo governo federal nos anos anteriores que consistia em usar bancos públicos para cobrir despesas de programas sociais e com isso melhorar suas contas - e na eventual omissão da presidente diante do esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. O grupo também entregou pareceres jurídicos justificando o pedido e se diz defensor de uma mudança dentro da ordem constitucional.

Ao receber o pedido de impeachment, Cunha disse que vai analisá-lo e se pronunciar formalmente sem omitir "opinião prévia". "Eu passei para a assessoria técnica analisar e depois vou dar um posicionamento. Vamos estudar o que tem lá com toda cautela e vamos nos pronunciar", disse.

Em abril, durante evento empresarial na Bahia, o presidente da Câmara indicou que iria rejeitar um eventual pedido de impeachment com base nas pedaladas. Na ocasião, ele avaliou que não havia a possibilidade de aplicar responsabilidade à petista por fatos relacionados ao mandato anterior.

Ato. Do lado de fora do Congresso, manifestantes faziam barulho com apitos e vuvuzelas. Sentado no gramado, um grupo de amigas gaúchas vestidas de verde e amarelo revelou que veio na manhã de ontem apenas para a manifestação, e voaria de volta no final da tarde. "Viemos por conta própria. Começamos com as manifestações ainda em setembro. Éramos meia dúzia, mas aí foi crescendo. Dilma tem que sair e o PT junto", contou Tuti Nair Silva, administradora de empresas, a mais falante do grupo.

Um dos líderes do MBL, o gaúcho Fabio Ostermann, de 30 anos, fez questão de deixar clara a diferença para os outros manifestantes que, há vários dias, acampam na Esplanada dos Ministérios e defendem uma intervenção militar. "Não pactuamos com qualquer pedido de intervenção. Esse pessoal é parasita. Eles não têm gente então se infiltram nas nossas manifestações", afirmou.

 

Vem pra rua vai para Brasília contra taxação de grandes fortunas

 

Um dia depois da marcha organizada pelo Movimento Brasil Livre em defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff chegar ao Congresso Nacional será a vez dos grupos oposicionistas que compõem a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos se reunirem nesta quinta-feira, 28, com políticos de oposição. Eles exigirão, entre outras coisas, a rejeição à taxação de grandes fortunas e impostos sobre heranças, pautas que não constavam entre as reivindicações dos grupos que foram às ruas em abril e maio nos protestos anti-Dilma.

Atualmente tramitam 12 projetos na Câmara neste sentido. As propostas são ventiladas pelo governo para ajudar no esforço de equilibrar as contas e podem entrar no pacote de ajuste fiscal. 

O principal grupo da "Aliança" é o Vem Pra Rua, que é liderado por grandes empresários e executivos do mercado financeiro. O grupo se recusou a participar da marcha que saiu de São Paulo a Brasília e apoia a iniciativa do PSDB de entrar com uma ação penal contra a presidente em vez de pedir o impeachment, como defende o MBL.

No material de divulgação do encontro, o Vem Pra Rua informa que a pauta da reunião é a revisão dos pleitos da Carta do Povo Brasileiro, documento entregue pelo grupo aos parlamentares de oposição em abril. Na versão antiga do texto não constava nem a rejeição à taxação das grandes fortunas e nem o imposto sobre herança. 

No mesmo informe, distribuído nesta quarta à imprensa, o Vem Pra Rua informa que 40 grupos fazem parte da Aliança. No entanto, ao menos dois deles ouvidos pelo Estado - o Acorda Brasil e o Quero Me Defender - afirmaram que não estão na frente.

"Colin (Buttfield, um dos líderes do Vem Pra Rua) me ligou e pediu para eu participar, mas resolvi ficar longe de tudo. Estou sabendo por você que eles têm essa proposta (de pedir a rejeição da taxação a grandes fortunas)", disse o líder do Quero Me Defender, Cláudio Camargo. 

A Aliança também pede o "desinhchaço" da máquina administrativa e defende o projeto do PMDB, patrocinado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que prevê a redução do número de ministérios.