Valor econômico, v. 15, n. 3732, 09/04/2015. Política , p. A12

 

Investigado, Ciro Nogueira deve ser reeleito presidente do PP

 

Por Raphael Di Cunto | De Brasília

Investigado na Operação Lava-Jato, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), deverá ser reeleito para o cargo por mais dois anos. Depois de protestos da ala oposicionista sobre a tentativa de Nogueira prorrogar o próprio mandato, que acaba no dia 11, por mais seis meses, o pepista convocou uma convenção para o dia 14 em Brasília para eleger a nova direção e será provavelmente o único candidato.

"O período é muito curto para qualquer outra candidatura se articular. Não vejo como ele não ser reeleito", afirma o deputado Odelmo Leão (MG), um dos que defende a renovação do partido e o afastamento do governo Dilma, pauta que reúne também lideranças do partido no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.

O nome mais citado para enfrentar o grupo de Nogueira era o da senadora Ana Amélia (RS), uma das poucas que escapou de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na Lava-Jato e da ala de oposição ao Palácio do Planalto, mas seus aliados dizem que ela só concorreria se fosse ungida pela legenda, o que não ocorrerá.

O grupo de Nogueira tem força na legenda, já demonstrada há uma semana, quando aprovou na Executiva do partido a prorrogação dos mandatos até novembro por 49 votos a seis. As chances de uma candidatura oposicionista vencer, dizem os pepistas, era quase nula.

Para Nogueira se manter no cargo, o diretório do PP deverá alterar seu estatuto, que proíbe a reeleição dos dirigentes, na convenção do dia 14. "Não é uma coisa nova, já teve o precedente da reeleição do Francisco Dornelles", diz o líder do PP na Câmara dos Deputados, Eduardo da Fonte (PE). Atual vice-governador do Rio de Janeiro, Dornelles exerceu o comando do PP de 2007 a 2013, quando foi reeleito duas vezes para o cargo.

A reeleição de um presidente investigado por desvios na Petrobras, afirma da Fonte, não causará mais danos à imagem do partido. "Não há condenação. É só um processo investigatório que pode não dar em nada", afirma o líder.

O doleiro Alberto Youssef, que era o operador do PP na Petrobras, afirmou em delação premiada que distribuía todos os meses cerca de R$ 2 milhões em propina para os parlamentares da legenda. O depoimento serviu para o STF abrir inquérito contra 18 dos 40 deputados federais e três dos cinco senadores do partido, que negam envolvimento.