Título: Oposição renova esforço para abertura de CPI
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 17/08/2011, Política, p. 2

Parlamentares não alinhados ao Planalto e parte da base querem explicações sobre denúncias contra o ministro peemedebista Wagner Rossi » » JÚNIA GAMA

A oposição ingressará no Ministério Público e na Mesa Diretora do Senado para cobrar explicações do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Matéria divulgada ontem pelo Correio mostrou que o ministro fez viagens particulares em jatinho de US$ 7 milhões pertencente à Ourofino Agronegócios. A empresa, de Ribeirão Preto, tem como sócio um assessor especial do ministério e foi responsável pela campanha de vacinação contra a febre aftosa promovida pela pasta no ano passado. "Temos que recorrer ao Judiciário porque, no Congresso, o governo sempre impede nossas tentativas de investigação", afirmou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). Com as novas denúncias, os oposicionistas intensificarão coleta de assinaturas para abrir uma CPI.

Demóstenes considerou absurda a parceria de Wagner Rossi com o assessor especial Ricardo Saud, amigo pessoal do ministro. "É um momento grave pelo qual o país está passando", avaliou. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), protocolou requerimento na Mesa Diretora da Casa para que Rossi preste novos esclarecimentos sobre o assunto. "Teremos que esperar que a Mesa autorize o pedido para que o ofício seja encaminhado ao ministério", afirmou o tucano. "Seguimos tentando coletar as assinaturas para a formação de uma CPI", completou.

Lideranças do PR, partido que foi defenestrado do Ministério dos Transportes, estavam contrariadas com a diferença de tratamento recebida pelo Planalto. "No caso dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff não pensou duas vezes, demitiu todo mundo. Com todas essas denúncias nos ministérios do PMDB, não vimos ninguém cair ainda", disse um dos parlamentares. "O PR segurou a governabilidade durante a crise, o PMDB não faria o mesmo", esclareceu um dos líderes, justificando a falta de isonomia, um dos principais motivos pelos quais o PR decidiu deixar a base governista (leia mais na página 6). O senador Blairo Maggi (PR-MT), em tom irônico, afirmou: "Ainda bem que eu não virei ministro. Iriam me perturbar por causa de jatinhos, tratores e barcos", provocou o senador.

Comissão Hoje, a oposição dá início a uma intensa campanha para coletar assinaturas a fim de instalação da CPI mista que investigaria os casos de corrupção denunciados em todos os ministérios. O senador José Agripino (DEM-RN) acredita que, com a saída do PR da base aliada, será mais fácil conseguir as 170 assinaturas na Câmara e as 27 no Senado, necessárias para a instalação da comissão.

O PMDB manteve o tom cauteloso ontem. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que o partido confia em seus ministros. Mas que "é necessário dar todas as explicações para quaisquer denúncias que são veiculadas na imprensa". O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) disse que o partido está unido ¿ durante o encontro com a presidente Dilma Rousseff na véspera, a legenda manifestou votos de apoio a Rossi e a Colbert Martins (um dos detidos na Operação Voucher) ¿, mas Dilma não fez qualquer menção ao assunto. "Os cargos de ministro, evidentemente, cabem à presidente. É ela quem nomeia e ela quem demite", reconhece Eunício.

Um integrante do PMDB que participou de solenidade no Palácio do Planalto pela manhã observou que o semblante do vice-presidente Michel Temer estava muito tenso. "Ele sabe que qualquer denúncia que atinja Rossi respinga nele. Por isso, essa operação, para mostrar que tudo está em ordem no Ministério e na Conab", disse um parlamentar peemedebista.

Brasileiros aprovam faxina de Dilma A pesquisa Sensus/CNT divulgada ontem mostra que a maioria dos brasileiros defende a "faxina" que a presidente Dilma Rousseff fez no Ministério dos Transportes, que resultou na saída de Alfredo Nascimento do cargo de titular da pasta no mês passado. Das 2 mil pessoas entrevistadas em 136 municípios entre 7 e 12 de agosto, 79,2% aprovaram as medidas adotadas por Dilma, enquanto 13,6% se colocaram contrárias. Já a avaliação positiva do governo ficou em 49,2%. Para 37,1%, a avaliação foi regular e 9,3% consideraram negativa. Essa é a primeira avaliação CNT/Sensus sobre a gestão de Dilma Rousseff.