Defesa da OAS quer Cardozo como testemunha

 

Advogados pedem a juiz que Ministro da Justiça e Graça Foster, ex-presidente da estatal, sejam chamados a depor

Renato Onofre

Os advogados dos executivos da OAS querem como testemunha de defesa o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Além dele, também foi pedida a convocação da ex-presidente da Petrobras Graça Foster. Os dois podem ser ouvidos na ação da 10ª fase de Operação Lava-Jato, que colocou no banco dos réus o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque, três executivos da OAS - Agenor Medeiros, José Ademário Filho e Mateus Coutinho - e outros 22 acusados.

Não é a primeira vez que um ministro é arrolado como testemunha de defesa de um dos empreiteiros acusados de pagamento de propina no esquema de corrupção da Petrobras. Em janeiro, a defesa do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, pediu a convocação do titular da Defesa, Jaques Wagner. O juiz Sérgio Moro alertou os advogados sobre um possível uso do pedido como forma de causar "constrangimento". A defesa manteve o pedido, mas em março, na véspera do testemunho, cancelou a oitiva.

Em fevereiro, Cardozo recebeu em audiência no seu gabinete três advogados representantes da empreiteira Odebrecht, envolvida na Operação Lava-Jato. Outros encontros com defensores de empreiteiros teriam acontecido. O ministro veio a público negar qualquer tipo de irregularidade no encontro.

Na época, em despacho negando um pedido de habeas corpus a Ricardo Pessoa, Moro considerou "reprovável" a atitude de advogados de empreiteiras e acusados da Lava-Jato de se reunirem com o ministro da Justiça. Segundo o juiz, a mera tentativa dos acusados e das empresas de "obter interferência política" no processo justificaria a manutenção da prisão preventiva dos réus para garantir a instrução e a aplicação da lei e "preservar a integridade da Justiça contra a interferência do poder econômico".

Moro ainda não decidiu se vai deferir o pedido para que o ministro Cardozo e Graça Foster sejam ouvidos. Na petição dos advogados da OAS, não há justificativa dos motivos para a convocação de Cardozo. Ao GLOBO, eles informaram que, entre os assuntos, está o acordo entre Brasil e Canadá em razão de celulares da marca canadense BlackBerry terem sido grampeados. A defesa busca uma brecha para questionar judicialmente as interceptações telefônicas. Além deles, foi arrolado como testemunha de Renato Duque, ex-diretor de Serviços, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli.

O processo em que eles foram arrolados investiga irregularidades nas licitações de refinarias Getúlio Vargas, no Paraná, e Paulínia, em São Paulo. Além dos Gasodutos Pilar-Ipojucá, entre Alagoas e Pernambuco, e Urucu-Coari, no Amazonas. Segundo o Ministério Público Federal, as propinas pagas por empreiteiras e consórcios foram distribuídas para diretores e operadores das diretorias de Abastecimento e de Serviços da Petrobras, então comandadas por Paulo Roberto Costa e Duque, além de partidos políticos.