Título: Google compra a Motorola
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 16/08/2011, Economia, p. 13

Com negócio de US$ 12,5 bilhões, buscador entra no mercado de celulares e aguça concorrência » O gigante de buscas pela internet Google anunciou a compra da fabricante de celulares Motorola Mobility, um negócio avaliado em US$ 12,5 bilhões. Após o anúncio, feito antes da abertura dos mercados ontem, os papéis da Motorola negociados na Bolsa de Valores de Nova York dispararam. As ações fecharam o dia com uma alta de 55,78%, cotadas a US$ 38,12. A operação já foi aprovada pelo conselho administrativo dos dois grupos norte-americanos. A expectativa é de que a fusão seja concluída até o início de 2012. Contudo, ela precisa do sinal verde das autoridades dos Estados Unidos.

A Motorola Mobility foi criada em meio a uma restruturação do grupo iniciada durante a crise financeira global. A divisão de soluções não está inclusa no negócio. A companhia norte-americana, que já chegou a liderar o mercado mundial de telefones móveis, anunciou prejuízos de US$ 56 bilhões no trimestre encerrado em julho. "A nova divisão foi criada para ser vendida. A surpresa foi a oferta do Google", comentou o presidente da Consultoria Teleco, Eduardo Tude. "Na verdade, ninguém esperava essa compra. Mas depois que anunciaram, pareceu natural. Há tempos, o Google vem tentando lançar um telefone próprio", completou o especialista e diretor da PromonLogicalis, Luis Minoru.

Considerada uma das maiores do setor de Tecnologia da Informação (TI) desde a crise financeira, e certamente a maior deste ano, a megaoperação marca também a chegada do grupo sediado em Montain View, na Califórnia, à chamada economia real ¿ ou seja, ao mundo do hardware, dos produtos palpáveis. Com o Android, sistema operacional de smartphones que mais cresce em participação de mercado, o Google poderá ter um aliado para testar melhor seus produtos. "Desde novembro de 2007, o Android tem crescido substancialmente. A combinação das duas empresas será de grande valor, assim como a troca de experiências e tecnologias para continuarmos na liderança das plataformas dessa indústria", afirmou Larry Page, principal executivo e fundador do Google.

Modelo Para Minoru, o negócio confirma estratégia do buscador pelo mesmo modelo de sucesso da Apple, que tem sistema operacional e aplicativos próprios, dedicados à sua linha de celulares, tablets, notebooks e computadores. "O Google vinha fazendo várias aquisições, mas na área de software e serviços. A compra da Motorola é o primeiro passo rumo à verticalização dos produtos", comentou. O especialista acredita que as compras não pararão por aí, pois o grupo tem muito dinheiro em caixa: R$ 34,9 bilhões no balanço financeiro de 2010.

"Nada impede que eles ainda façam novas aquisições na área de hardware. As ações da Nokia, ontem, também subiram", sugeriu Minoru. Se essa ideia se concretizar, será um golpe duríssimo na Microsoft, que aposta suas fichas na recente parceria com a fabricante finlandesa. O setor de telecomunicações vem liderando as fusões e aquisições no Brasil e no mundo. "Há um movimento de convergência das mídias com softwares e hardwares, que era propagado há vários anos, mas só agora está se concretizando efetivamente", comentou Luís Motta, sócio responsável por Fusões e Aquisições da Consultoria KPMG.

Risco de migração A compra da Motorola é positiva para o Google, que ganha competitividade frente aos seus concorrentes, mas pode ser ruim para os fabricantes que usam o sistema operacional do buscador, como a coreana Samsung. A empresa cresce justamente com as vendas de produtos que usam o Android. A dúvida é se haverá reação das indústrias ao fato de que a plataforma não siga mais tão aberta quanto antes. Especialistas acreditam em migração para a Microsoft ou mesmo na busca por um sistema próprio.