Título: Cheque sem fundo para sair da prisão
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 16/08/2011, Política, p. 3

Acusado de fraude, pastor se compromete a pagar fiança sem dinheiro no banco e pede ajuda a fiéis » O pastor Wladimir da Silva Furtado, sócio da Conectur, uma ONG de fachada que teria sido criada para desviar recursos do Ministério do Turismo, passou um cheque sem fundo no valor de R$ 109 mil para arcar com a fiança e deixar a prisão na madrugada de sábado. Ele tinha até as 16h de segunda-feira para arrecadar o valor, mas, na tarde de ontem, conseguiu prorrogar o prazo para sexta-feira. Até agora, Furtado arrecadou R$ 16,2 mil ¿ ele chegou a fazer um apelo na televisão e na rádio para que os fiéis de sua igreja o ajudassem com doações.

"Não quero lesar a Justiça, mas não conseguimos arrecadar. Se tiver que voltar (para a penitenciária), não tem problema nenhum", afirmou Furtado, reforçando que quase todos os outros 17 suspeitos soltos também emitiram um "cheque-caução".

A Conectur é peça-chave no esquema montado pela ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) para, segundo a Polícia Federal, fraudar convênio de capacitação profissional e fortalecimento do turismo no Amapá com o Ministério do Turismo e desviar recursos públicos. Ela teria sido subcontratada pelo Ibrasi, que não prestou o serviço. De acordo com sócios da Conectur, Furtado teria revelado que parte dos recursos do convênio seriam repassados também para a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP).

Em conversa com o Correio, Furtado negou as acusações levantadas por Merian Guedes de Oliveira e David Lorran, sócios da Conectur, e Hellen Luana Silva e Errolflynn Paixão, ligados à ONG ¿ todos presos pela PF. Os quatro disseram que Wladimir havia revelado que parte dos recursos voltaria para a deputada. Pastor Wladimir, como é conhecido, no entanto, eximiu a parlamentar de ter se beneficiado das irregularidades. "Não tem nada disso", afirmou.

Foram as emendas de Fátima Pelaes ao Orçamento, no valor total de R$ 9 milhões, que deram origem aos convênios com o Ibrasi, pivô da fraude. O empresário Luiz Gustavo Machado, sócio do instituto e apontado pela PF como chefe da quadrilha, recusou-se a conversar com a reportagem. "Não posso falar nada por orientação dos meus advogados", afirmou Machado, negando-se a responder sua ligação com a deputada.

"Advogada" Nos grampos telefônicos da PF, não há citação direta ao nome da deputada, mas a Polícia Federal sustenta que os investigados se referem à parlamentar como a "advogada". Em uma conversa em 27 de junho, o secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico da Silva Costa, diz que a "advogada" estava preocupada com a defesa que o Ibrasi iria apresentar ao Tribunal de Contas da União ¿ o TCU auditava os repasses. "A "advogada" me passou uma mensagem. Ela estava em dúvida se tínhamos sido nós que preparamos a defesa do pessoal (do Ibrasi)", diz Frederico. Em seguida, o secretário executivo afirma a seu assessor Antônio dos Santos Júnior ter recomendado a Fátima que ela desse uma "olhada" na defesa do instituto. Questionado pela PF, Antonio confirma que a "advogada" era Fátima Pelaes.

Bloqueio de bens O Ministério Público Federal pediu o bloqueio dos bens dos 18 principais suspeitos de envolvimento da fraude no Ministério do Turismo que estavam presos até a madrugada de sábado, quando foram soltos depois de prestar esclarecimentos e conseguirem habeas corpus na Justiça. O bloqueio dos bens vai até o limite de R$ 4 milhões, valor que, segundo a investigação da Operação Voucher, da Polícia Federal, foi fraudado no convênio de capacitação profissional voltada ao turismo no Amapá. Ontem, cinco servidores da pasta foram afastados por 60 dias para não atrapalhar as investigações.