Cunha foi 'destinatário' de propina, diz Youssef

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

 

O doleiro Alberto Youssef afirmou na quarta-feira à Justiça Federal que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), era um dos "destinatários finais" da propina de cerca de R$ 4 milhões em contratos de navios-sonda da Petrobras investigados pela Operação Lava-Jato.

O doleiro reafirmou sua versão de que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. Ele disse que foi procurado pelo executivo Julio Camargo após estes requerimentos.

– Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados – relatou ao juiz Sérgio Moro.

O magistrado perguntou "quando o senhor conversou com Julio Camargo ele falou quem eram os beneficiários das operações? Ou ele só falou no Fernando Soares?". O doleiro respondeu: "Falou no Fernando Soares e contou a história da pressão que o Eduardo Cunha estava fazendo para que ele pudesse pagar o Fernando Soares, dando entendimento que esse valor fosse também na época para o deputado."

Mais tarde, questionado pelo seu advogado sobre quem seriam os "destinatários finais" desta propina, Youssef reiterou ter ouvido de Camargo que eram "Fernando Soares e Eduardo Cunha". Questionado, Youssef também confirmou que as propinas eram relativas aos contratos de navios-sonda.

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Fernando Baiano, Julio Camargo e o ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró são réus em processo sobre suposto pagamento de US$ 30 milhões em propinas na contratação de duas sondas de perfuração para exploração de petróleo. O presidente da Câmara vem negando com veemência o envolvimento no esquema de desvios na Petrobras.

No fim do mês passado, o ex-diretor da área de informática da Câmara Luiz Antonio Souza da Eira disse em depoimento a procuradores e à Polícia Federal, um dia após ser demitido por Cunha, que a versão inicial do requerimento da auditoria do sistema de informática da Câmara foi gerada com a senha, "pessoal e intransferível", de Cunha. O documento final foi apresentado pela ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).

 

Investigação pede a quebra de sigilos de Renan e Collor

 

Investigadores encaminharam ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido para quebrar o sigilo bancário em inquéritos dos quais são alvo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Fernando Collor (PTB-AL), o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) e o ex-deputado do PP João Pizzolatti, investigados por suposta participação no esquema de corrupção e pagamento de propina envolvendo a Petrobrás deflagrado pela Operação Lava Jato. 

O departamento da Polícia Federal que cuida dos inquéritos que correm no Tribunal enviou as solicitações ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, no último dia 7. Os pedidos foram protocolados em segredo de justiça e de forma separada dos inquéritos nos quais os políticos são investigados. No caso dos inquéritos em que Renan Calheiros, Aníbal Gomes e Collor são investigados, também foi requisitada quebra de sigilo fiscal, quando podem ser requeridos dados que estão em poder da Receita Federal.

As quebras de sigilo bancário e fiscal podem servir para checar depósitos mencionados pelos delatores da Lava Jato. O doleiro Alberto Youssef disse, em delação premiada, que fez “vários depósitos” a Fernando Collor, além de ter autorizado entregas de dinheiro em espécie para o parlamentar. Youssef relata ainda que em uma das operações, a entrega foi feita por seu funcionário, Rafael Angulo, que levou o dinheiro até Alagoas. Tido como “mensageiro” de Youssef, Angulo realizou delação premiada que foi homologada recentemente pelo ministro Teori Zavascki. A delação pode reforçar a investigação de políticos no STF. 

No caso do presidente do Senado, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou em delação ter conhecimento que parte de valores envolvidos em contratos da estatal eram canalizados pelo peemedebista. O delator afirmou ainda que Aníbal Gomes era um interlocutor de Renan. No inquérito que investiga Pizzolatti, a procuradoria-geral da República relata que Youssef afirmou que o ex-deputado compunha grupo de parlamentares do PP que atuavam na “operacionalização do esquema de corrupção” de forma “estável e perene”.

Na tarde desta quarta-feira, 13, a PF pediu diligências nos inquéritos que investigam o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). Com relação aos dois parlamentares, no entanto, não se sabe ainda se o pedido foi pela quebra de sigilo ou outra solicitação. A autorização para que um oficial de justiça fosse à Câmara dos Deputados para realizar buscas de dados que ajudarão na investigação do presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também consta de pedido apartado do inquérito e tramitou de forma oculta, até sua realização.