Corrida para MPF é suspensa para proteger Janot

 

POR JAILTON DE CARVALHO

 

Dois meses depois de o procurador-geral da República Rodrigo Janot ter pedido abertura de inquérito contra 35 deputados e senadores suspeitos de envolvimento com fraudes na Petrobras, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) decidiu congelar até o final de julho a corrida pela sucessão no Ministério Público Federal. Dirigentes da associação resolveram adiar a preparação da lista tríplice de candidatos ao cargo de procurador-geral para proteger Janot da escalada de ataques que ele e o próprio Ministério Público têm sido alvo desde que a Operação Lava-Jato chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Procuradores entendem que a abertura da sucessão interna poderia fragilizar o procurador-geral num momento em que ele conduz investigações sobre lideranças políticas do Congresso Nacional. Deputados ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos investigados na Lava-Jato, já apresentaram requerimento para quebrar sigilo telefônico e convocar Janot para depor na CPI da Petrobras. A ideia seria inverter posições: transformar Janot, de chefe da investigação, em investigado; e os investigados em investigadores.

Quando a lista dos parlamentares a serem investigados no STF foi tornada pública, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a falar na criação de uma CPI do Ministério Público. O senador Fernando Collor (PTB-AL), outro investigado, passou a buscar informações sobre viagens e gastos do MP durante a administração de Janot. Oficialmente, a ANPR diz que as eleições internas estão sendo adiadas porque o mandato de procurador-geral só termina em setembro. Mas, em conversas reservadas, procuradores admitem que uma eleição interna agora poderia enfraquecer Janot.

— Se você começa a especulação agora, você está antecipando o fim do mandato do procurador-geral da República. Temos que pensar no procurador-geral como uma figura forte e não como uma pessoa que está sendo eclipsada pelo fim do mandato. Não existe nenhuma necessidade de que a gente faça essa lista agora seis meses antes do fim do mandato dele (Janot) — afirma o presidente da ANPR, Alexandre Camanho.

ELEIÇÕES SOMENTE NO SEGUNDO SEMESTRE

O mandato de Alexandre Camanho termina em 14 de maio. Até lá, ele diz que não moverá uma palha para estimular as disputas internas. O sucessor de Camanho, José Robalinho Cavalcanti, segue na mesma linha. Ele nega que a Lava-Jato tenha mudado o calendário da entidade. Mas confirma que, desta vez, as eleições internas vão ficar para o segundo semestre. Pela tradição iniciada na década passada, as eleições começam nos primeiros meses do ano de término do mandato do procurador-geral.

— Não é isso (Lava-Jato). É uma questão prática. O processo eleitoral deve começar mesmo no final de julho ou início de agosto — disse.

Janot já disse a interlocutores que tem interesse em permanecer por mais dois anos no cargo. A escolha dele é dada como certa. Ele foi o primeiro da lista tríplice nas eleições internas em 2013 e é considerado como o franco favorito este ano também. Procuradores acham ainda que a presidente Dilma Rousseff manterá a tradição e escolherá para o cargo um nome indicado pela ANPR em eleição interna. O problema estaria no Senado. Políticos investigados na Lava-Jato poderiam tentar barrar a recondução de Janot. A nomeação do procurador-geral passa por aprovação em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça e do plenário do Senado.

Não há casos de rejeição ao nome de um procurador-geral indicado por um presidente da República. A prática se consolidou sobretudo porque, desde 2002, a indicação recai sobre o primeiro da lista tríplice da ANPR. A reprovação de um procurador-geral seria uma rejeição à escolha. Mas, ainda assim, procuradores têm recebido sinais de que alguns parlamentares, entre eles Eduardo Cunha, vão trabalhar contra uma eventual recondução de Janot. O presidente da Câmara considera injusto estar entre os investigados da Lava-Jato.

— Ele (Cunha) não participa da sabatina, mas tem influência e parece estar com sede de vingança — disse um procurador.

Não fosse isso, Janot já estaria com a recondução praticamente assegurada. A vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, a segunda colocada nas eleições passadas, declarou que não vai se candidatar. Deborah Duprat, que também concorreu com Janot, relatou a amigos que não quer enfrentar o desgaste de uma nova candidatura. Sandra Cureau, outra adversária, deve se aposentar em 2016. Como eventuais adversários, Janot teria os subprocuradores Mário Bonságlia e José Bonifácio de Andrada, tidos como possíveis candidatos.