Em busca de notícias positivas

Correio braziliense, n. 18989, 23/05/2015. Política, p. 3

Julia Chaib

Paulo de Tarso Lyra

Horas antes da divulgação do maior corte do orçamento do ano, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se ontem, na Granja do Torto, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais quatro ministros para montar uma discurso contra os ataques à paralisia do governo e municiar a militância petista para o enfrentamento com a oposição. Foi o segundo encontro da petista com Lula em apenas oito dias. A ofensiva começará em junho, com uma série de ações para tentar estabelecer uma agenda positiva e reverter a queda de popularidade de Dilma. Estiveram no encontro os ministros das Comunicações, Ricardo Berzoini; da Casa Civil, Aloizio Mercadante; da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva; e o da Defesa, Jaques Wagner. O encontro foi transferido de quinta para sexta.

Segundo um analista político do governo, depois do pesadelo do contingenciamento de quase R$ 70 bilhões no Orçamento, “é preciso começar, de fato, a governar e mostrar o que pode ser feito daqui para frente”. Segundo participantes da reunião, o encontro foi convocado para fazer uma análise da conjuntura política atual. A avaliação é a de que a popularidade da presidente melhorou, mas ainda há o que aprimorar. Nesse sentido, Lula sugeriu dar mais peso aos programas a serem lançados em junho. A intenção é divulgar de todas as formas possíveis as ações do governo para dar destaque à produção e valorizar a agenda positiva.

A julgar pelo planejado, o governo deixou para fazer em junho tudo o que não fez até agora. Estão previstos os lançamentos dos planos Safra, de concessões em infraestrutura, (dia 9 de junho) e para a Agricultura Familiar, além do programa de Exportações. Também sairá do papel o plano de investimentos na Petrobras, divulgado todo ano pela estatal em junho para mostrar que a estatal não ficou refém do escândalo de corrupção que corrói a sua estrutura. O plano de concessões em infraestrutura, inclusive, tinha a previsão de ser lançado em maio, mas foi adiado justamente para compor o cardápio de boas notícias. Também no início do segundo semestre será lançada a terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida, que distribuirá mais de 1,5 mil moradias.

China
Aos ministros, Lula também afirmou que o governo deve dar muito destaque ao investimento da China no país. O primeiro-ministro chinês Li Keqiang esteve no Brasil na última semana e fechou 35 acordos com Dilma que somam um investimento total de US$ 53 bilhões. Também foi discutido no encontro que o governo deve ter uma proposta para o fim do fator previdenciário. Um possível veto ao não à medida incluída no rol do ajuste fiscal por deputados não teria entrado em pauta. Mas ficou decidido que o Planalto precisa ter uma proposta a apresentar e defender.

A pressa para acelerar as iniciativas também tem como objetivo atender uma demanda interna. O PT está marcando para junho o 5º Congresso Nacional da legenda, em Salvador. O partido quer discutir o futuro, já que não está nada satisfeito com o presente. Os petistas estão extremamente incomodados com a adoção de uma “agenda liberal” que tem ameaçado direitos dos trabalhadores. As brigas internas não cessam. A senadora Marta Suplicy vai desembarcar do partido e os senadores Lindbergh Farias (RJ) e Paulo Paim (RS) avisaram que não votarão com o governo nas medidas do ajuste fiscal. “Precisamos pensar no Brasil e não apenas nos nossos interesses corporativos e eleitorais”, criticou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).