Título: Confrontos matam 84 no Oriente Médio
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Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2011, Mundo, p. 13

Síria, Afeganistão, Iêmen e Paquistão sofrem ataques contra civis e prédios oficiais. Na Líbia, rebeldes avançam sobre Trípoli e se aproximam da capital

É possível descrever o último domingo no mundo árabe em três palavras: mortes, bombardeios e insurreição. Pelo menos 84 pessoas morreram em atentados na Síria, no Afeganistão, no Iêmen e no Paquistão, país que comemorava seu Dia da Independência. Enquanto isso, rebeldes líbios, opositores ao governo do ditador Muamar Kadhafi, anunciaram ter tomado o controle, após confrontos intensos com as tropas oficiais, de parte da cidade de Zauiya, a 40km de Trípoli. "Nossas forças controlam as entradas oeste e sul de Zauiya e nós penetramos 3km no interior da cidade", afirmou ontem o comandante das forças insurgentes, Bashir Ahmed Alí.

Esse avanço é estratégico para o grupo, já que a cidade é considerada essencial para que os rebeldes conquistem o objetivo de dominar a capital do país. Mas o anúncio da vitória contra a ditadura foi desmentido pelo porta-voz do governo, Mussa Ibrahim, que assegurou: "Zauiya está sob nosso controle". O general Mohammed El-Senoussi, um dos líderes das forças armadas anti-Kadhafi, explicou que Ibrahim não está totalmente errado, por enquanto. "As forças do presidente continuam presentes em muitos locais", afirmou, em entrevista à agência de notícias EFE. Porém, El-Senoussi garantiu que elas serão derrotadas nas próximas horas.

Apesar do sucesso dos rebeldes em se impor cada vez mais perante o governo, a falta de organização torna difícil a missão de tirar Muamar Kadhafi do poder. Ontem, o ditador divulgou uma mensagem sonora na qual convoca seus partidários para a "batalha da libertação" das cidades controladas pelos rebeldes. Na mensagem, divulgada por uma rede de televisão, ele fala que é preciso "resistir e se preparar" para enfrentar as forças contrárias. Já nas redes sociais líbias, há rumores de que Kadhafi pretende fugir do país.

Enquanto isso, as tropas governamentais da Síria parecem estar trabalhando de maneira mais intensa contra a insurgência. Pelo menos 23 civis morreram e dezenas ficaram feridos ontem em uma operação terrestre e marítima dos militares na cidade de Latakia, oeste do país. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), tanques de guerra e barcos equipados com metralhadoras participaram de uma operação contra o bairro de Al Raml Al Junubi, palco de manifestações nos últimos dias contra o regime de Damasco.

"Navios de guerra estão atacando Latakia e são ouvidas explosões em vários bairros", alertou a organização. "Foram escutados intensos disparos e explosões no bairro de Saliba", enquanto "veículos de paramilitares partidários do regime e forças de segurança se concentravam na cidade", acrescentou. O OSDH afirmou que, entre as vítimas, há palestinos que viviam no campo de refugiados de Al Raml, o que causou "profunda preocupação" na Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). A agência pediu "às autoridades sírias que ordenem moderação às suas forças (...) e garantam a integridade dos civis, incluindo os refugiados".

Carro-bomba Outras ofensivas aconteceram ontem no Afeganistão, no Paquistão e no Iêmen. Na província de Parwan, 50 km ao norte de Cabul, 27 pessoas morreram em um ataque suicida reivindicado pelos talibãs contra o complexo governamental da cidade. Um camicase explodiu um carro-bomba na entrada do complexo onde estão os gabinetes, abrindo passagem para homens armados, no momento em que assessores da Otan estavam reunidos com o governador, Abdul Basir Salangi. No Iêmen, uma pessoa morreu.

No Paquistão, uma série de atentados tirou a vida de pelo menos 18 pessoas exatamente no Dia da Independência do país. Uma bomba explodiu em um restaurante na cidade de Deraa Allah Yar, na província do Baluchistão (sudoeste), matando 14 civis e ferindo outros 16. Na mesma província, mas na cidade de Juzdar, a polícia informou que um jornalista foi assassinado a tiros. Já no distrito de Waziristão do Norte, quatro foguetes caíram no quartel de Miranshah, deixando três soldados mortos e 25 feridos.

Julgamento adiado O julgamento do ex-ministro do Interior do Egito Habib Al-Adly, acusado de assassinato, foi suspenso ontem e adiado para 5 de setembro, após uma sessão turbulenta. A audiência foi suspensa quatro vezes em três horas pelo juiz Ahmed Refaat, que se irritou com a longa lista de reivindicações apresentadas pelos advogados das vítimas.