Ajuste atinge bancos, e base aliada comemora

Correio braziliense, n. 18989, 23/05/2015. Economia, p. 9

Antonio Temóteo

Diante da crítica de que toda a conta do ajuste fiscal estava caindo no colo do trabalhador, o governo editou uma medida provisória que eleva de 15% para 20% a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) paga por bancos, seguradoras e administradoras de cartão. A previsão é que a União arrecade entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões a mais por ano. A MP nº 675, publicada ontem no Diário Oficial da União, foi uma forma que o Executivo encontrou de aplacar os ânimos da base aliada, contrária às mudanças propostas para concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas, e reforçar o caixa para garantir o cumprimento da meta fiscal.

A MP entrará em vigor em 1º de setembro, quando termina a noventena necessária a qualquer alteração tributária. A alta da CSLL foi elogiada pelos senadores dos partidos da base aliada. Em discursos no plenário, parlamentares do PT, do PDT e do PP avaliaram que o setor bancário e financeiro também precisa contribuir para o ajuste fiscal.

“A decisão do governo de taxar os bancos, claro, é uma medida muito simpática, primeiro porque o lucro dos bancos, comparativamente a todo o setor produtivo, é sempre muito maior. O produto do banco é o dinheiro, e esse produto é valioso. Então, sempre é um setor privilegiado na economia por conta dessas condições”, afirmou a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Para o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), o ajuste não pode penalizar somente o trabalhador. “Por que não vamos para o capital? Todo trimestre, uma coisa é certa neste país: os bancos lucram bilhões. A presidenta agora tomou uma atitude”, afirmou.

Mercado
O anúncio da taxação maior sobre instituições financeiras influenciou o resultado da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Fbovespa), que fechou em queda de 1,33%, a 54 377 pontos, puxada, principalmente, pela queda nas ações dos bancos. Itaú Unibanco e Bradesco perderam 2,1%, enquanto os papéis do Banco do Brasil caíram 3,4%, e do Santander Brasil, 1%. O BTG Pactual, em nota enviada a clientes, estima que o impacto total de medida deve ficar entre 5% e 8% sobre o lucro dos bancos.

O Credit Suisse estimou impacto negativo de 5,9% no lucro do Bradesco; de 5,8% nos de Itaú Unibanco e do BB; e de 5,1% do Santander Brasil, no ano que vem. A equipe do UBS calculou efeito médio negativo no lucro por ação de 7,8% dos quatro bancos sob sua cobertura, sendo maior em BB (9%).

Também influenciou o resultado negativo da Bovespa, a declaração da presidente do Federal Reserve (Fed — banco central norte-americano), Janet Yellen, de que a elevação dos juros nos Estados Unidos deve ocorrer ainda este ano, uma vez que a economia do país caminha para se recuperar da fraqueza do primeiro trimestre.