EM AUDIÊNCIA NO SENADO, LEVY NÃO DESCARTA SUBIR IMPOSTOS

MARTHA BECK, CRISTIANE BONFANTI E ELIANE OLIVEIRA

Ministro afirma, porém, que ‘não há o desejo’ no governo de elevar tributos

Em audiência de sete horas no Senado, o ministro Levy disse que “não é desejo” do governo elevar impostos, mas não descartou a possibilidade de fazer isso se necessário.

— Acho que seria inadequado dizer assim: “Jamais trarei um imposto novo”. Eu acho que o governo tem que ter a liberdade de tomar as ações que são necessárias em defesa do interesse — afirmou o ministro, acrescentando: — Acho, certamente, que qualquer coisa tem que ser feita com muita parcimônia. E, antes de investir em um novo imposto, eu acho que a gente tem que acertar os que estão aí.

Em audiência concorrida, a sala ficou pequena para quem quis acompanhar a fala do ministro. Ele se levantou apenas uma vez para ir ao banheiro e ficou praticamente à base de água. O presidente da comissão, senador Delcídio do Amaral (PT-MS), chegou a brincar que Levy estava passando por uma tortura, pois não tinha recebido uma barrinha de cereal para tapear a fome. O ministro brincou: — O ajuste fiscal chegou aqui também. Na audiência, Levy foi questionado não apenas sobre as medidas do ajuste, mas sobre os mais variados temas — Petrobras, inflação, corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e declarações citando a presidente Dilma Rousseff na semana passada. Ao conversar com ex-alunos da Universidade de Chicago, o ministro disse que Dilma é bem intencionada, mas nem sempre age da forma mais efetiva.

O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) perguntou ao ministro sobre a declaração e quis saber se Levy não temia ver sua biografia maculada por fazer parte do governo Dilma, que deteriorou as contas públicas. Já Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que ela “teve que engolir a seco” o comentário de Levy.

— Acho que a minha ponderação de que a presidente quer endireitar as coisas no Brasil, get things right, é compartilhada por muitos. Naquela ocasião, naquela conversa bastante informal, eu dei indicações de que tenho o maior orgulho do Brasil — disse Levy. — Se nós tivermos sucesso em avançar pautas, eu, com um coração muito humilde, diria que terá sido uma oferta inesperada para a minha biografia.

‘CUSTO ALTÍSSIMO’

O ministro defendeu o ajuste fiscal e destacou que o governo está “cortando na própria carne” para reequilibrar as contas públicas. Sobre as medidas que restringem o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, ele afirmou que não se trata de tirar direitos das pessoas, mas de corrigir distorções. Sem o ajuste, afirmou Levy, o Brasil perderá a confiança dos investidores e seu grau de investimento:

— O custo de perdermos o grau de investimento será altíssimo para o governo, que aumenta o custo de sua dívida, será altíssimo para as empresas, que terão mais dificuldades de se financiar, será altíssimo para o trabalhador, que obviamente vai viver num país com mais dificuldade, e eventualmente até turbulência.

BANCOS PÚBLICOS

Dentro das novas diretrizes de política econômica, o ministro ressaltou a mudança do papel dos bancos públicos, que não poderão mais emprestar recursos com juros muito reduzidos.

— Essa política também já completou seu curso e tem que ser modificada. O mais importante é que essa expansão de crédito não foi inflacionária, porque tinha como lastro o aumento, a injeção de recursos por investidores estrangeiros. A nossa dívida externa, principalmente a pública, não se expandiu, mas a interna cresceu no mesmo passo dos recursos transferidos para o BNDES — afirmou Levy.

Mas a defesa do ajuste fiscal não foi suficiente para convencer parlamentares da base governista e da oposição. De forma geral, havia expectativa de que Levy falasse mais sobre como fazer a economia brasileira crescer.

— A mim (o ministro Levy) está longe de convencer — afirmou Aécio Neves (PSDB-MG).

— O governo exige um sacrifício da sociedade e não dá contrapartida. Os cortes são insignificantes em relação ao custeio — disse o também tucano Álvaro Dias (PR).

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) considerou a exposição de Levy “irreal”. Disse que não há horizontes quanto ao melhor desempenho da economia, por exemplo.

Já Walter Pinheiro (PT-BA) pediu ao governo o envio de medidas concretas para garantir a retomada do crescimento do país, além das duas medidas provisórias que já tramitam no Congresso, que tratam de alterações nos sistemas previdenciário e trabalhista. Uma sugestão seria adotar uma nova política de incentivo às exportações.
-BRASÍLIA- O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que “não há o desejo de se aumentar ou criar impostos” no governo, mas sinalizou que essa ação é uma possibilidade para garantir o ajuste fiscal. Durante uma sessão que durou mais de sete horas, ele defendeu as medidas que a equipe econômica propõe para reequilibrar as contas públicas, alegando que, sem elas, o país pode perder o grau de investimento, o que teria um custo “altíssimo” para o Brasil.