Doleiro: propina foi entregue na porta do diretório do PT em SP

 

Renato Onofre / Germano Oliveira

O doleiro Alberto Youssef afirmou, em depoimento na Justiça Federal nesta terça-feira, que as empresas Odebrecht e Braskem depositavam as propinas relativas ao esquema de corrupção da Petrobras no exterior. Os recursos teriam sido usados para alimentar as contas do PP e do PT. O doleiro também afirmou ter entregado, a pedido de fornecedoras da estatal, propina em dinheiro no seu escritório, na Zona Sul de São Paulo, e na porta do prédio do Diretório Nacional do PT, também em São Paulo.

— Eu cheguei a usar uma das empresas do seu Waldomiro (laranja de Youssef) para fazer uma operação para (a empresa) Toshiba onde eu pude, então, não só pagar o Partido Progressista (PP) e o Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), mas também pagar o Partido dos Trabalhadores (PT). Foram dois valores de R$ 400 e poucos mil que foram entregues, a mando de Toshiba ao tesoureiro João Vaccari (Neto).

De acordo com o doleiro, a primeira parcela da propina foi retirada pela cunhada do tesoureiro do PT, Marice Correa de Lima, em seu escritório. O segundo valor foi entregue na porta do prédio do Diretório Nacional do PT, em São Paulo, pelo funcionário do doleiro, Rafael Ângulo, a um representante da Toshiba, que teria repassado o dinheiro a Vaccari.

No interrogatório, Youssef reforçou ainda o pagamento a agentes públicos. Ele citou que a maior parte da propina operada por ele ia para os cofres do PP, por meio do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

Pela primeira vez o doleiro Alberto Youssef diz em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que recebeu dinheiro no exterior para pagar políticos do PP e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de 2010 a 2014, oriundo das empreiteiras Brasken, Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Ao responder a pergunta de um procurador do Ministério Público Federal (MPF) de quem recebia dinheiro no exterior para pagar propinas a políticos em reais aqui no Brasil posteriormente, depois do dinheiro internalizado no país, Youssef foi direto:

— Da Brasken, Odebrecht, provavelmente UTC devo ter recebido alguma coisa lá fora. Andrade Gutierrez, para quem fiz caixa dois e da Engevix. Que eu me lembre são essas.

Como eram feitos os pagamentos da Odebrecht no exterior?

— A Odebrecht teve grandes contratos na Petrobras. Primeiro Rnest (Petroquimica Abreu e Lima, no Pernambuco), onde ela teve o consórcio Conest. Parte desses valores a Odebrecht me pagou em reais vivos aqui e parte em contas no exterior. Como era um consórcio, a Odebrecht pediu que a OAS pagasse parte das comissões através de notas da MO, Rigidez e RCI.

Como o depoimento de Youssef foi feito a pedido dele, o doleiro coloborou e respondeu a todas as perguntas do juiz Sérgio Moro e dos procuradores. Um deles quis saber se Youssef recebeu algum pagamento por meio da Construtora Del Sur, uma das empresas da Odebrecht com ramificações no exterior.

— Uma vez recebi uma ordem da Odebrecht na qual a remessa foi feita pela construtora Del Sur, que seria da Odebrechet.

Youssef deu os nomes dos diretores da Odebrecht que autorizavam as operações do doleiro no exterior.

— Era o senhor Márcio Faria, presidente da Odebrecht Óleo e Gás, o Cesar Rocha que era diretor financeiro da holding. Pela Brasken, que é do mesmo grupo, que o contato era o Alexandrino (Alencar).

Quantas vezes o senhor recebeu da Construtora Del Sur no exterior?

— Duas ou três vezes.

Com relação a Andrade Gutierrez como eram feitos os recebimentos no exterior?

— Fiz três operações para a Andrade Gutierrez. E agora no final de 2013, começo de 2014, que foi operação de US$ 300 mil, que mandei para a DGX, e duas operações de US$ 150 mil, que nada tem a ver com a Petrobras. Mas foi operação de caixa dois, a pedido de um representante da Andrade, o Flávio Magalhães, e o diretor da Andrade Gutierrez na Venezuela, o senhor Alberto.

“Eu era só uma engrenagem no sistema”

O depoimento prestado na terça-feira por Youssef foi espontâneo, a pedido dele. Ele queria deixar claro que foi “usado” por um esquema maior, que objetivava desviar dinheiro público da Petrobras.

— Reconheço meu erro. Resolvi fazer colaboração espontaneamente e retificar outros depoimentos. Eu era meramente engrenagem desse processo todo, tinha o poder público por trás disso tudo. Estou pagando que que fiz. Já estou preso há mais de um ano e não sei por quanto tempo ainda ficarei preso, mas infelizmente acabei de me envolvendo mais uma vez num escândalo — diz Youssef no depoimento de meia hora prestado ao juiz Sérgio Moro.

OUTRO LADO

Segundo a Braskem, todos os contratos com a Petrobras e os pagamentos a eles relacionados "sempre seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente e de acordo com as mais rigorosas regras de governança corporativa". Além disso, afirma a empresa, "é importante ressaltar que os preços praticados pela Petrobras na venda de matérias-primas nunca favoreceram a Braskem e sempre estiveram atrelados às referências internacionais mais caras do mundo, com notórios efeitos negativos para a competitividade da Braskem e da petroquímica nacional".

Já a Odebrecht "e seus integrantes negam as alegações caluniosas feitas por doleiro réu confesso em investigação em curso na Justiça Federal do Estado do Paraná. A Odebrecht nega a existência de qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas.”

A Andrade Gutierrez nega que tenha mantido contatos com Youssef. "A Andrade Gutierrez nega que tenha mantido qualquer tipo de contato com o Sr. Alberto Youssef. Vale ressaltar, inclusive, que, em depoimentos anteriores, o Sr. Alberto Youssef já havia deixado claro que não tratava de qualquer assunto com a Andrade Gutierrez e seus executivos. A Andrade Gutierrez reitera, como tem feito desde o início da Operação Lava Jato, que não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso. "

A Toshiba disse, em nota, que não tem mais comentários a fazer. “Uma vez que a Toshiba já apresentou todas as informações para a autoridade responsável, neste momento a Toshiba não tem comentários a fazer.”

Vaccari diz que doleiro se contradiz

O secretário Nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, divulgou nota em que “nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte do senhor Alberto Youssef ou de seus representantes”. A nota afirma que Youssef se contradiz.

“Chama a atenção o fato de que, na delação realizada em fevereiro, Youssef afirmou que uma suposta entrega do dinheiro teria sido feita em um restaurante em São Paulo. No depoimento de hoje, se contradiz e afirma que foi na frente da sede do PT. Youssef também afirma que um funcionário dele teria entregue o dinheiro a um representante da empresa Toshiba, e não diretamente a Vaccari ou a outro representante do PT. A Toshiba nega veementemente que algum dos seus funcionários tenha repassado recursos para representantes do PT”.

Segundo Vaccari, as doações ao PT são feitas conforme a lei. “A afirmação de Youssef causa ainda mais estranheza porque sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI Mista da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca fez transações financeiras com Vaccari Neto. Essa Secretaria de Finanças reitera que todas as doações que o Partido dos Trabalhadores recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça”.