Presidente afirma que panelaço é algo ‘normal’

Rafael Moraes Moura

Tânia Monteiro

 

A presidente Dilma Rousseff tratou nesta quarta-feira, 6, como “normal” o panelaço realizado durante a veiculação do programa partidário do PT na televisão, na noite de anteontem. A oposição, por sua vez, voltou a criticar o vídeo exibido pelo partido. 

“Eu já disse várias vezes para vocês que (manifestação) é normal no Brasil. Em alguns outros países, manifestações assumindo a forma de ‘panelaço’ ou qualquer outra forma não são consideradas normais. No Brasil, elas são normais, porque nós construímos a democracia. Então, respeitar a manifestação livre das pessoas é algo que nós conquistamos a duras penas”, disse a presidente a jornalistas, depois de participar de solenidade no Planalto de lançamento do plano nacional de defesa agropecuária.

Ao falar sobre sua ausência no programa partidário do PT, Dilma disse que “nem sempre” participa dos programas exibidos na televisão. 

Além da presidente, o ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT-BA), minimizou o ato realizado em algumas capitais do País e tentou estimular o debate sobre a reforma política. “Os que batem panela deviam gritar por reforma política. Nossa democracia é tão sólida que resiste a panelaço, à rua e à investigação de corrupção”, afirmou o petista ao ser questionado sobre o assunto. O ministro participou da cerimônia comemorativa dos 126 anos de fundação do Colégio Militar, no Rio, onde estudou de 1962 a 1968. 

 

A presidente Dilma Rousseff (PT)

A presidente Dilma Rousseff (PT)

 

Um dia antes do panelaço, na tarde de segunda-feira, Wagner utilizou o microblog Twitter para criticar a “falta de bandeira propositiva”, segundo ele, de simpatizantes do movimento que pede o afastamento da presidente. “Ao mesmo tempo, sinto que essa energia não tem destinação pela falta de bandeiras, de proposições”, tuitou. Minutos antes, havia relativizado. “É positivo ver a sociedade nas ruas, ver esta energia democrática intensa em movimento.”

‘Cara de pau’. Por outro lado, o PSDB elogiou o protesto , chamando-o de “histórico”. “Não mostraram a Dilma, por vergonha, mas tiveram a cara de pau de dar destaque ao Lula, o ‘pai’ de todas as maracutaias”, afirmou Carlos Sampaio (SP), líder da legenda na Câmara, em texto publicado no site do PSDB.

A convocação para o ato foi feita por redes sociais e por grupos de mensagens instantâneas pelo celular. Parlamentares do PSDB também publicaram posts convocando seus apoiadores a baterem panelas durante o pronunciamento transmitido às 20h30. O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), utilizou a hashtag #PanelaçoNaDilma. Uma das hashtags mais reproduzidas e comentadas nas redes sociais, entretanto, foi a #TonaLutaPeloBrasil, de apoio ao governo Dilma, com várias mensagens favoráveis ao governo. 

Origem. O panelaço nasceu como instrumento de protesto de forças conservadoras em 1971, no Chile, para derrubar o presidente socialista Salvador Allende. O utensílio foi utilizado após uma das lideranças comunitárias questionar a falta de ter o que cozinhar. Na Argentina, as panelas começaram a soar em 1982, ainda na ditadura, também com mulheres revoltadas com escassez e inflação. O modelo foi utilizado nos anos 2000 em países europeus em crise financeira, como Grécia e Islândia, e também no Canadá.

No Brasil, a atual gestão enfrentou seu primeiro panelaço no Dia da Mulher, seguido de outro realizado no momento em que o Jornal Nacional, da TV Globo, exibia reportagem sobre a presidente, um dia após os protestos de 15 de março.