Fortuna de Barusco repatriada

Correio braziliense, n. 19967, 01/05/2015. Política, p. 4

O Brasil conseguiu recuperar mais R$ 86 milhões após as investigações da Operação Lava-Jato, sobre dinheiro desviado da Petrobras. Ontem, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro anunciou que o valor foi depositado em uma conta da Caixa Econômica. Os recursos vieram de contas na Suíça mantidas por Pedro José Barusco, ex-gerente de Engenharia da estatal e ex-diretor de uma empresa ligada à petroleira.

No mesmo dia, a Petrobras informou que destruiu arquivos de vídeo e de áudio das reuniões do Conselho de Administração da estatal, incluindo as que Dilma Rousseff, então presidente do colegiado, participou ao autorizar a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. As revelações foram publicadas no site do jornal O Estado de S.Paulo na tarde de ontem.

Pedro Barusco fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Neles, firmou pacto para confessar crimes, entregar outros personagens do esquema e devolver US$ 97 milhões, a maioria em contas bancárias no exterior. Os US$ 29,5 milhões creditados na Caixa e divulgados ontem fazem parte desse montante. Em 12 de março, o equivalente a R$ 182 milhões já havia sido repatriado: foram R$ 139 milhões depositados em moeda nacional e mais o correspondente a R$ 43 milhões em euros e francos suíços, a serem convertidos.

A parte depositada ontem se refere a desvios feitos por meio da fornecedora holandesa de navios SBM Offshore. A empresa confessou ter pago propinas de US$ 139 milhões para fechar negócios na Petrobras. Barusco disse que recebia subornos dela desde 1997. No MPF do Rio de Janeiro, um inquérito investiga os contratos bilionários da SBM com a Petrobras — na ordem de R$ 30 bilhões. “A medida alcançada é fundamental no combate a crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro”, afirmaram os procuradores da República Renato Oliveira, Leonardo Cardoso e Daniella Sueira, que apuram o caso.

Arquivo
O Tribunal de Contas da União (TCU) pediu à Petrobras cópia dos áudios e dos vídeos das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras, mas só restam as atas dos encontros, pois os arquivos foram destruídos. Uma fonte do TCU ouvida pelo Correio disse que a Corte quer saber quando o material foi apagado. Isso permitiria identificar “se estão querendo esconder algo a partir de certa data”. Em 18 de março, o plenário determinou que os auditores analisassem responsabilidades dos conselhos fiscal e de administração nos 40 processos referentes à estatal, sendo 10 ligados a Pasadena e 15 à Lava-Jato.

A estatal disse que existe uma norma sigilosa que determina a destruição de vídeos e áudios depois que as atas são produzidas. Na CPI da Petrobras, o então conselheiro da estatal Mauro Cunha disse, terça-feira, que a empresa parou de destruir as gravações com a deflagração da Lava-Jato.

Em 2006, Dilma deu aval à compra da refinaria de Pasadena. O negócio acarretou prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o TCU. Em nota, a presidente afirmou que se baseou em um parecer jurídico “falho” feito pelo então diretor de Internacional Nestor Cerveró, hoje preso na Lava-Jato.