Dilma tenta aproximação com Renan antes da sabatina de Fachin no Senado

Isadora Peron

Rafael Moraes Moura

 

A presidente Dilma Rousseff decidiu agir para evitar a rejeição do nome de Luiz Edson Fachin para a vaga no Supremo Tribunal Federal. Ontem, 11, na véspera da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Dilma convidou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para acompanhá-la no voo a Joinville (SC), onde ocorreu a cerimônia de enterro do corpo do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) - que morreu anteontem, 10.

O gesto foi visto como uma tentativa da petista de se reaproximar de Renan, que não tem escondido o seu descontentamento com o governo. Ontem, 11, a presidente ligou pessoalmente para o peemedebista sugerindo que fossem juntos a Santa Catarina. Também pediu que Renan indicasse quais outros parlamentares ele gostaria que integrassem a comitiva que seria levada pelo avião presidencial.

Os dois viajaram na cabine presidencial acompanhados de dois ministros do PMDB - Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura). Em um bate-papo “ameno”, Dilma e Renan falaram de alguns temas, entre eles o ajuste fiscal. Dilma teria dito que o pacote é apenas uma etapa para se retomar os investimentos. Dentro do avião, o assunto Fachin não foi mencionado, segundo relatos.

Para a equipe de Dilma, afagos como esse, mais do que palavras, podem ajudar a amolecer o peemedebista, não só para a aprovação do nome do jurista, como também para que as medidas de ajuste fiscal passem sem sobressaltos no Senado. Antes do gesto de Dilma, o Planalto já havia mobilizado ministros e líderes da base aliada na missão de defender Fachin. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, passou o fim de semana e o dia de ontem, 11, fazendo ligações a parlamentares.

Apesar de dizerem que não trabalham com um plano B, integrantes da coordenação política do governo avaliam que a aprovação de Fachin depende agora do desempenho e da capacidade que ele vai ter de convencer os senadores durante a sabatina.

Os ministros do Supremo são indicados pelo presidente da República e devem ter mais de 35 e menos de 65 anos. O aspirante, então, é sabatinado pela CCJ do Senado. Independentemente do resultado na comissão, ocorre a votação secreta em plenário. O mínimo para a aprovação é de 41 votos. O grupo que apoia Fachin vai pedir regime de urgência para que a votação em plenário aconteça ainda nesta semana. Há, porém, a sinalização de que Renan pretende deixar a decisão para a semana que vem.

Troca

Parlamentares da oposição estão preparando um verdadeiro arsenal para pressionar Fachin hoje na CCJ. O PSDB decidiu trocar os membros titulares que compõem a comissão para garantir os votos contrários do partido na sabatina.

A decisão foi tomada após os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), titulares da comissão, serem criticados por decidirem se ausentar da sabatina para viajar a Nova York e participar de uma homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os dois serão substituídos por Aloysio Nunes (SP) e Cássio Cunha Lima (PB).

O terceiro membro da legenda que fará parte do colegiado, porém, está em franca campanha por Fachin. Relator do processo na Casa, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou um parecer favorável à aprovação do jurista. Gaúcho, Fachin fez carreira no Paraná e conquistou a simpatia do tucano, que governou o Estado. Na gestão do tucano, ele foi nomeado procurador do Estado, cargo que ocupou entre 1990 e 2006. Fachin tem sido acusado de atuar de maneira ilegal nesse período como advogado.

Na audiência, o jurista também será questionado sobre o fato de ter declarado voto em Dilma na campanha de 2010, sua ligação com o Movimento dos Sem Terra, e ideias consideradas progressistas em relação à família.