Título: BNDES vê risco para o crédito
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Economia, p. 14

Os riscos de paralisação no crédito internacional, em razão da crise na Europa e nos Estados Unidos, não justificam novas elevações na taxa de juros básicos (Selic) no Brasil, defendeu ontem o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Para ele, não é sensato pensar em aperto monetário diante da deterioração do cenário externo. Embora não considere que os bancos privados brasileiros vão segurar a oferta de financiamentos, como fizeram na crise de 2008, Coutinho afirmou que o governo pode agir, se necessário, para evitar a escassez de capital.

"Se tivermos uma crise bancária e ela paralisar o crédito, vamos ter que ver instrumentos de expansão com os bancos públicos", afirmou. Ao comentar a possibilidade de uma nova recessão global, o presidente do BNDES avaliou que o momento é de fragilidade. "Estamos à beira de uma situação que pode replicar um episódio de duplo mergulho, embora diferente, e de paralisia do crédito no sistema internacional", afirmou.

Coutinho lembrou que o sistema interbancário europeu está parado e toda a liquidez está se concentrando nos bancos centrais. Temores de agravamento na crise da dívida soberana da Europa e de estagnação do crescimento estão pressionando os mercados financeiros globais. Na quinta-feira, as bolsas de valores em todo o mundo registraram fortes perdas. No Brasil, a bolsa paulista registrou queda de 5,72% ¿ a maior desde novembro de 2008, quando o mundo ainda ressentia a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers.

Degradação De acordo com Coutinho, a crise de liquidez na Europa também "contamina" a economia norte-americana, embora em menor escala. "Certamente os custos de capital nos Estados Unidos serão maiores e a perspectiva de degradação das finanças públicas americanas vai afetar o custo de capital em alguma extensão", disse. Diante disso, para ele não é mais sensato pensar em subir ainda mais a Selic. A taxa básica foi elevada em 0,25 ponto percentual em julho, para 12,50%, dentro do esforço do Banco Central para conter inflação.