Título: Austeridade antecipada
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Economia, p. 14

Roma ¿ Sob extrema pressão, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, garantiu ontem que vai antecipar a adoção de pesadas medidas de austeridade fiscal para combater os efeitos da crise da dívida. Num dia em que os juros dos títulos italianos bateram recorde histórico, a intenção do líder era dar um choque de credibilidade para convencer o Banco Central Europeu (BCE) a ajudar seu governo. Pelo menos a curto prazo, a estratégia deu certo. Depois de relutar o dia inteiro, no fim da noite a autoridade monetária anunciou que vai comprar papéis do Tesouro italiano, que perdem valor rapidamente.

"O foco da especulação está sobre nós", disse Berlusconi. Segundo ele, o pacote de cortes de gastos deve permitir o equilíbrio do orçamento até 2013, um ano antes do planejado inicialmente. Além de acelerar o cronograma das medidas, ele vai introduzir uma emenda na Constituição determinando o ajuste das contas. O trabalho para a inclusão deve começar imediatamente, com as comissões do Parlamento se debruçando sobre o projeto já a partir da próxima semana. "Vamos aprovar essa reforma em poucos meses, talvez ainda em setembro."

Os investidores não se impressionaram muito com o plano de austeridade de 48 bilhões de euros aprovado, em parte porque a maioria das medidas estava prevista apenas para depois das eleições de 2013. O primeiro-ministro queria evitar um arrocho muito grande num período eleitoral, mas não teve alternativa. Autoridades do BCE deixaram claro para ele que a instituição só passaria a comprar os títulos italianos, dando um alívio para o Tesouro, se percebesse um compromisso maior com o ajuste fiscal. Ontem, Berlusconi afirmou que o G-7, grupo que congrega as sete economias mais industrializadas, se reuniria "nos próximos dias" para debater a crise. O encontro ainda não foi marcado.