Título: Taxa recorde para empréstimos
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Economia, p. 14

Num reflexo direto da derrocada fiscal europeia, que traz o aumento do risco de calote, os investidores estão exigindo um pagamento cada vez maior para comprar títulos públicos dos países do Velho Continente. Os juros dos papéis da Espanha e da Itália bateram recorde histórico ontem, ficando mais de 4 pontos percentuais acima dos pagos nos bônus alemães, tidos como referência. Nas obrigações com vencimento em 10 anos, o Tesouro italiano chegou a pagar 6,23%, enquanto os encargos do espanhol foram ainda maiores: 6,31%.

Os mercados de bônus da Itália e da Espanha, que estão no centro da crise da dívida da Zona do Euro, podem enfrentar outro golpe se o prêmio de risco das dívidas dos países dificultar que os bancos levantem recursos usando os papéis como lastro para as operações. As instituições financeiras usam os títulos para acessar o mercado de capitais, no qual uma série de câmaras de compensação têm um papel vital, assumindo riscos de financiamento para redirecionar os recursos. Os bancos, por sua vez, emprestam o dinheiro captado a consumidores e empresas.

Os bancos, entretanto, podem ficar menos dispostos a comprar bônus italianos e espanhóis se as câmaras de compensação decidirem que o risco de crédito elevado atrelado às dívidas gera uma cobrança adicional que encareça o financiamento de forma exagerada. O prêmio de risco dos títulos dos dois países se aproxima de níveis a partir dos quais a LCH Clearnet, uma importante empresa de compensação, impôs uma cobrança adicional para títulos irlandeses e portugueses. Os rendimentos subiram mais como consequência disso e ambos os países receberam resgates financeiros desde então.

Gatilho "Esse é um dos eventos engatilhadores. Não é um bom sinal para mandar ao mercado de bônus", disse Laurence Boone, economista europeu do Bank of America Merrill Lynch. A interdependência entre o já frágil setor bancário e os febris mercados de títulos públicos podem empurrar Espanha e Itália mais perto do ponto em que não poderão mais se financiar, um cenário aterrorizante que a Zona do Euro não teria capacidade de resolver. Os bônus da Itália, que são os mais abundantes na Zona do Euro, estão amplamente usados nesse tipo de transação.