Título: Juros podem cair ainda este ano
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Economia, p. 14

Reflexo da crise internacional no Brasil leva governo e mercado a cogitarem recuo na Selic

A forte desaceleração da economia mundial, que terá pesados reflexos sobre o Brasil, levou o governo a apostar na queda da taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,50%, ainda neste ano. O sinal do afrouxo monetário foi dado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em recentes conversas com a presidente Dilma Rousseff, nas quais ela cobrou explicações sobre o poder de fogo do país para minimizar os estragos, por aqui, se confirmada a temida recessão internacional. Até a semana passada, ninguém aventava a possibilidade de redução da Selic.

No mercado financeiro, também já se começa a cogitar a necessidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir os juros, já que o Brasil não passará incólume à crise global. Tanto que, no pressuposto de que o BC seja obrigado a reduzir a taxa Selic já no início do próximo ano, os analistas vêm corrigindo a curva de juros para baixo. Ontem, a taxa de médio prazo, para contratos que vencem em janeiro de 2013, caiu para 12,23%. Em uma semana, esse tipo de contrato perdeu mais de 40 pontos.

Mas, para alguns economistas, o cenário pode reverter-se rapidamente. "O mercado é muito volátil. Se o medo da recessão acabar, eles retomam rapidamente suas apostas", explicou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank. Não foi com esse desprendimento que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se referiu à crise ontem. "Temos que estar preparados para as consequências que podem haver. Temos que estar unidos para criar mecanismos de resposta a essa situação", declarou ele, em Lima, durante um encontro de ministros da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) com objetivo de discutir a valorização das moedas locais frente ao dólar.

Volatilidade "O mercado futuro de juros ganhará ainda mais volatilidade, seguindo e acompanhando os indicadores de crescimento mundial e os preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional)", avaliou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. Para o analista, ainda é cedo até para dizer se o BC interromperá a alta da Selic na reunião do fim de agosto. "Será que o Banco Central está disposto a repetir o risco do ano passado, quando interrompeu a alta dos juros contando com um benefício do componente deflacionário externo, principalmente dos preços das commodities, o que acabou não se confirmando?", indagou.

Marcelo Carvalho, do BNP Paribas, também não acredita em mais aumento de juros este ano, justamente por conta da turbulência internacional. "Estamos retirando de nossas projeções para o ano a alta de mais 0,50 ponto percentual que prevíamos", declarou o economista.

Resposta conjunta ao dólar O Brasil pediu uma resposta conjunta a seus vizinhos latinoamericanos, durante reunião de autoridades em Lima, para enfrentar as turbulências econômicas e os capitais especulativos que há meses fortalecem as moedas da região, colocando em jogo a competitividade das exportações. Desde 2008, o real se fortaleceu 33% frente ao dólar; o peso chileno, 28%; e a moeda colombiana, 21%.