Título: Agência rebaixa os EUA
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Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Economia, p. 17

Com a dívida superando os 100% do PIB e à beira da recessão, os Estados Unidos perdem o status de porto mais seguro do mundo

Washington ¿ O que todos temiam aconteceu. A agência de classificação de risco Standard and Poor"s (S&P) rebaixou ontem a nota da dívida pública dos Estados Unidos, fato inédito desde 1941. A qualificação dos títulos do Tesouro norte-americano passou de "AAA" para "AA ", diante do crescente endividamento da maior economia do mundo, que chegou a US$ 15,1 trilhões, e do pesado deficit no orçamento do país. Com esse selo, os EUA ficam abaixo do Reino Unido, Alemanha, França e Canadá.

A S&P avisou que colocou os EUA sob "perspectiva negativa". Ou seja, pode fazer uma nova avaliação da situação fiscal do país, também para baixo. "O rebaixamento reflete a nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal com que o Congresso e o governo concordaram recentemente fica aquém do que, em nossa visão, seria necessário para estabilizar a dinânima de médio prazo da dívida", frisou. A Casa Branca reagiu à decisão e alegou "falhas profundas e fundamentais" no processo de avaliação da agência.

O rebaixamento, que também reflete a disputa política nos EUA, veio logo depois do fechamento dos mercados, mas seus reflexos serão sentidos com vigor na próxima segunda-feira, mesmo com os títulos norte-americanos continuando como principal parâmetro para a formação de preço dos papéis emitidos pelos governos de todo o planeta. A medida afetará, ainda, a imagem já desgastada do presidente dos EUA, Barack Obama, que aproveitou, ontem, o primeiro bom número da economia em várias semanas ¿ a criação de 117 mil postos de trabalho no país ¿ para mandar um recado: "Quero que o povo norte-americano e os nossos sócios em todo o mundo saibam que vamos superar todas as dificuldades. As coisas vão melhorar".

Ciente de que a sua liderança ficou abalada diante das dificuldades da Casa Branca em aprovar o aumento do teto da dívida do país no Congresso, ele ressaltou que, apesar de um "ano tumultuado", a economia registrou saldo positivo no mercado privado de trabalho pelo 17° mês consecutivo. Com isso, a taxa de desemprego caiu 0,1 ponto percentual, para 9,1%, um alívio em meio em pessimismo que tomou conta do planeta nas últimas semanas.

Apesar da comemoração, Obama reconheceu que ainda há muito por fazer, pois 8 milhões de trabalhadores no país estão sem ocupação desde que foram vitimados pela recessão iniciada no fim de 2007 e agravada depois da quebra do Banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. "Precisamos criar um ciclo autossustentável, no qual as pessoas estejam gastando, as companhias estejam contratando e nossa economia esteja crescendo", afirmou. Não satisfeito, acrescentou: "A minha preocupação agora, o meu foco, é o povo norte-americano. Temos de levar os desempregados de volta ao emprego, aumentar seus salários e reconstruir a sensação de segurança que desapareceu nos últimos anos".

O setor público, no entanto, continuou cortando vagas pelo nono mês consecutivo. Foram fechados 37 mil postos, quase todos no estado de Minnesota.