Título: Língua solta derruba ministro
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Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Opinião, p. 22
Cai o terceiro ministro do governo Dilma em menos de dois meses. Depois de Antonio Palocci e Alfredo Nascimento, foi a vez de Nelson Jobim. Diferentemente dos anteriores, que perderam o cargo em decorrência de denúncias de corrupção, Jobim saiu da Defesa em razão de inconveniências verbais. Pelo menos cinco declarações mereceram repreensão do Planalto seja pela deselegância, seja pela criação de clima inamistoso na equipe da presidente da República.
Ao discursar na festa de aniversário dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que "hoje os idiotas perderam a modéstia". Os petistas vestiram a carapuça. Diante do mal-estar criado, ele declarou que se referia a jornalistas. Pouco depois, em entrevista, afirmou que havia votado em José Serra. A declaração foi considerada deselegante e provocação gratuita. As gotas d"água vieram na revista Piauí que chegou às bancas ontem.
O perfil preparado há mais de duas semanas trouxe passagens incendiárias. "Ela é muito fraquinha", disse desqualificando a colega Ideli Salvatti, ministra de Relações Institucionais. "Gleisi não conhece nada de Brasília", alfinetou Gleisi Hoffmann, a chefe da Casa Civil. "Quem sabe se ele vai ser útil ou não sou eu", respondeu à Dilma Rousseff quando ela lhe perguntou se a contratação de José Genoino seria útil ao Ministério da Defesa.
Apesar do temperamento forte e da inclinação ao exibicionismo, Jobim fez bom trabalho à frente da pasta. Conseguiu ter bom trânsito com o estamento militar, fato inédito até então. Responsável pelo setor aéreo, pôs ordem no caos que reinava depois das duas maiores tragédias ocorridas na aviação nacional em menos de um ano. Não significa que tenha resolvido o problema que maltrata passageiros e representa uma das parcelas do custo Brasil. Significa que o tornou administrável. Mais: consolidou o Ministério da Defesa e assegurou tranquilidade numa das áreas mais sensíveis da Esplanada. Engajou-se na luta pelo reaparelhamento das Forças Armadas e pela criação da Estratégia Nacional de Defesa.
Celso Amorim, que o substitui, tem desafios pela frente. Precisa manter as conquistas e avançar na solução de pendências. Uma delas: levar avante o ambicioso programa de reorganização, reequipamento e requalificação das Forças Armadas. Outra: engordar o orçamento de 2012 para tornar possível a concretização de projetos considerados prioritários pelo Ministério da Defesa. Entre eles, as redes de proteção das fronteiras, do mar e do espaço aéreo. Mais uma, talvez a mais árdua: encaminhar no meio militar a discussão sobre a Comissão da Verdade na direção desejada pela presidente Dilma Rousseff.