Título: ONU pede ajuda maciça e urgente
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2011, Mundo, p. 25

Fome na África

Agência alimentar alerta: 12,4 milhões podem morrer na Somália e em mais três países

Mais de 12,4 milhões de vidas estão em risco na Somália, no Djibuti, na Etiópia e no Quênia, por um único motivo: a fome. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) lançou ontem um alerta sobre a grave situação na área conhecida como Chifre da África, e pediu ajuda internacional urgente e maciça. Uma das piores secas dos últimos 60 anos, agravada por conflitos armados, deflagrou mais uma emergência alimentar na região. Além da desnutrição, as autoridades se preocupam com o caos provocado pela corrida aos alimentos. Ontem, pelo cinco pessoas morreram quando homens armados tentaram roubar suprimentos em um campo de refugiados somalis.

Para os especialistas da ONU, o quadro tende a se agravar ainda mais nas próximas quatro a seis semanas, e a situação pode se estender até dezembro. ¿A fome está afetando três regiões ao sul da Somália, onde uma situação de emergência provocou a morte de milhares de pessoas. É preciso realizar uma intervenção urgente de grande envergadura¿, afirma o comunicado da FAO. Segundo a organização, 564 mil pessoas podem morrer se a ajuda não for imediata. A crise começa a atingir países vizinhos, como Uganda.

Os casos de desnutrição aumentam a cada dia. De acordo com Tyler Fainstat, diretor-executivo da organização Médico Sem Fronteiras (MSF) no Brasil, 37% das crianças com menos de 5 anos sofrem com a fome. ¿A situação é grave e alarmante. O maior campo de refugiados na fronteira da Somália com o Quênia, construído para atender 90 mil pessoas, hoje tem mais de 350 mil, e o número pode chegar a 500 mil nos próximos dias. Com a superlotação, a provisão de água fica baixa e as condições de higiene se deterioram. Estamos aumentando o nosso pessoal lá, mas é importante chamar outras organizações para compartilhar os trabalhos¿, aponta.

Além do aumento do fluxo de refugiados nos campos, um dos grandes problemas das equipes de ajuda humanitária é o acesso e a segurança nas regiões afetadas. Na Somália, em especial, os rebeldes islâmicos impedem a chegada dos grupos internacionais a certas áreas. ¿Essa é uma crise dentro de uma crise que já dura 20 anos. Não é apenas a seca: existem vários outros elementos que influenciam a situação. A Somália é um país onde não existe estrutura de atendimento de saúde, e os conflitos impedem a ajuda humanitária¿, explica Fainstat.

Outra preocupação no Chifre da África é a falta de segurança nos campos de refugiados e nos locais de atendimento à população, onde milhares de pessoas esperam por ajuda médica e comida. Ontem, cinco pessoas morreram na Somália depois que milicianos tentaram roubar 300 toneladas de alimentos que estavam sendo distribuídos pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), das Nações Unidas. A ajuda estava chegando a um local de refúgio em Badbado, no sul de Mogadíscio, quando os agressores trocaram tiros com as forças de segurança. Eles conseguiram fugir com parte da reserva de suprimentos.