Valor econômico, v. 15, n. 3743, 25/04/2015. Política , p. A7

 

Planalto e PT divergem sobre fala no 1º de Maio

 

Por Andrea Jubé | De Brasília

Com receio de novos panelaços, a presidente Dilma Rousseff avalia a conveniência de convocar cadeia de rádio e televisão para o tradicional pronunciamento do dia 1º de Maio. Enquanto uma ala de ministros aconselha a presidente a não voltar à televisão em meio à crise e à baixa popularidade, lideranças petistas sustentam que Dilma deve ir a público contra a terceirização e pelo resgate da bandeira dos direitos trabalhistas.

Fontes do Planalto afirmaram ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que a presidente ainda não bateu o martelo sobre o assunto, apesar das ponderações contrárias de ministros do núcleo mais próximo a ela. Um integrante da coordenação política observa que se Dilma decidir voltar ao vídeo, sua manifestação não deve ultrapassar cinco minutos. Alvo de críticas - e muito barulho com a bateção de panelas -, o último pronunciamento durou 15 minutos. "Eu disse à presidente que às vezes, menos pode significar mais", relatou.

Outro ministro defende que Dilma espere mais um pouco antes de reaparecer no horário nobre na televisão. Nos bastidores, o governo encomenda pesquisas qualitativas para testar a reação dos brasileiros às próximas participações da presidente em eventos públicos.

Ministros ponderam que, no lugar do pronunciamento, Dilma deveria aproveitar declarações rápidas, para lembrar conquistas recentes, como a medida provisória, editada em março, que prorrogou a regra de valorização do salário mínimo até 2019. A medida aguarda votação no Congresso, mas já está em vigor.

O último pronunciamento oficial, em 8 de março - Dia Internacional da Mulher -, dirigido pelo marqueteiro João Santana, com o objetivo de explicar o ajuste fiscal, deflagrou o panelaço em todo o país. Uma semana depois, mais de 1 milhão de brasileiros saiu às ruas contra Dilma e o governo.

Em meio à escalada dos preços da gasolina, das contas de luz e dos alimentos, uma das passagens que mais irritou os brasileiros foi o trecho em que Dilma fez um apelo para que encarassem as dificuldades com "paciência". "Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira", disse a presidente. Logo vieram os protestos, e embora as manifestações de 12 de abril tivessem menor público, não há sinais de recuo da insatisfação popular.

Em outra frente, contudo, lideranças do PT mostram irritação com o que consideram falta de senso de oportunidade do governo em faturar com a polêmica em torno do projeto de lei da terceirização. Dirigentes petistas pressionam Dilma a assumir uma postura mais enfática contra o projeto. Nos bastidores, é dado como certo o veto a pontos da proposta.

O argumento é de que seria uma forma de resgatar o discurso perdido após a campanha com as medidas de ajuste fiscal que limitam o acesso a benefícios históricos, como seguro-desemprego e abono salarial. Para se reeleger, Dilma afirmou que não mexeria nos direitos trabalhistas "nem que a vaca tussa", e agora uma parcela da população avalia que ela mentiu.

Nas últimas semanas, contudo, o movimento sindical - base histórica do PT - saiu às ruas para protestar contra o projeto que regulamenta a terceirização, com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - a mais identificada com o governo - à frente, mas a avaliação interna é que Dilma não soube aproveitar a oportunidade.

"Quem vai sair na foto com os trabalhadores é o Renan [Calheiros, presidente do Senado]", criticou um dirigente petista, quanto à hesitação da presidente. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi a público declarar que o projeto não avançaria na Casa com o mesmo açodamento que tramitou na Câmara dos Deputados, desafiando o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ).